Se Galípolo, futuro presidente do BC não der um pouco de rédea à economia brasileira, poderá fazer com que ela quebre a perna e tenha de ser sacrificada
Para os seres vivos, o combustível é basicamente formado por hidrogênio e carbono, enquanto o comburente é o oxigênio que ingerimos ao respirar. Imaginemos um atleta que se submeta a uma prova de resistência. Primeiro, ele queimará o glicogênio muscular; em seguida, o glicogênio hepático; posteriormente, ele vai mobilizar suas reservas armazenadas sob a forma de gordura. Quando também ela acabar, o atleta começará a consumir sua musculatura até que caia como caiu a maratonista suíça Gabriela Andersen-Schiess ao entrar no estádio olímpico de Los Angeles em 1984.
Os biólogos, bem como os médicos e os veterinários, sabem que, assim como as fontes de energia que as máquinas consomem, os combustíveis queimados pelos seres vivos podem custar mais ou menos. A diferença é que esse custo não se pode expressar em unidades monetárias, mas em calorias. Um grama de hidrato de carbono, como o que encontramos nos açucares, é uma fonte barata de energia para o corpo humano porque o esforço que o organismo faz para o transformar em energia útil é menor do que o despendido pelo corpo ao queimar a proteína. Os nutricionistas sabem disso e balanceiam a dieta consoante o tipo de exercício que o atleta vai praticar. Para as competições de curta duração e movimentos explosivos como 100 m rasos, mais proteína e menos hidrato de carbono; para exercícios de longa duração, mais hidrato de carbono e menos proteína. No primeiro caso, o atleta vai queimar toda a energia de uma vez só e precisa ter uma reserva de proteína pra preservar a musculatura. No segundo caso, o competidor vai queimar o hidrato de carbono aos poucos e, se consumir proteína, terá mais toxinas a excretar. A intenção não pode ser somente ganhar a prova, mas vencer e preservar o competidor. Nâo foi esse o caso da suíça Gabi, mesmo que a imagem de seu esforço para terminar a prova seja o arquétipo da resiliência. Não só ela não ganhou a prova como teve sequelas musculares pelo resto da vida.
O papel dos economistas é justamente evitar que dramas como o da corredora aconteçam. Se a economia estiver correndo demais, poderá consumir todas as reservas de capital e não sobrarão recursos para repor a musculatura. Tecnicamente, os economistas chamam o desgaste muscular de depreciação, ou seja, o desgaste ocasionado pela produção excessivamente intensa. O economista polonês Michal Kalecki e o britânico John Maynard Keynes explicaram o fato de que, se a economia se aquecer demais, não terá energia para continuar na mesma velocidade e até respirar será um esforço insuportável. É nesse ponto que se pode comparar o capital com o hidrato de carbono. Se o treinador deixar o atleta correr demais, ele queimará suas reservas e a energia para continuar correndo será cada vez mais cara, ou seja, a taxa de juros sobe naturalmente, inibindo a atividade econômica.
Ocorre que a economia não é como um atleta humano a quem o treinador pode explicar a estratégia. A economia é como um cavalo de esporte, que são 500 kg de músculos querendo andar. Um mal cavaleiro tentará sofrear o animal a qualquer custo porque crê que sua energia deve ser preservada para a competição inteira, mas não é isso o que acontece. Se ele não respeitar o ritmo do animal, ele pinoteará, empinará, escoiceará, queimando suas reservas de energia da forma mais improdutiva possível. O Banco Central independente, principalmente quando visa aos interesses do mercado financeiro, é o pior dos cavaleiros porque não respeita a natureza de sua montaria que ficará desgovernada e o resultado é exatamente o oposto do desejado. Cavalos árabes são para corridas de longa distância em velocidade moderada, enquanto os Quarto de Milha servem para correr 400 m em altíssima velocidade. Assim como cada raça de cavalo serve para um tipo de esporte cada economia tem seu desempenho consoante suas características humanas e geográficas, não se podendo tratar todas da mesma forma, como tenta fazer o Banco Central ao acreditar que basta elevar a taxa de juros para sofrear o ímpeto econômico. Se Galípolo, futuro presidente do Banco Central não der um pouco de rédea à economia brasileira, poderá fazer com que ela quebre a perna e tenha de ser sacrificada.
Por Brasil 247