A recém-descrita pererequinha-de-bromélia foi encontrada apenas na Estação Ecológica Wenceslau Guimarães e foi batizada em homenagem à capoeira
A rica fauna da Mata Atlântica acaba de ganhar mais um integrante. Pesquisadores encontraram uma nova espécie de pererequinha-de-bromélia na Estação Ecológica Wenceslau Guimarães, na Bahia. O registro foi feito pela equipe do Laboratório de Herpetologia Tropical da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). O batismo científico da nova espécie, Phyllodytes iuna, rende uma homenagem à capoeira. O termo “Iúna” é como é chamado o toque executado para formatura de alunos graduados ou no jogo entre mestres dessa arte marcial de DNA afro-brasileiro.
A descrição da nova espécie foi publicada na revista científica Zootaxa no final de novembro, em artigo assinado por quatro pesquisadores da UESC. A pesquisa contou com auxílio financeiro do Programa PROTAX do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
“As pererequinhas-de-bromélia são animaizinhos espetaculares”, comenta o professor Mirco Solé, outro autor do artigo. “Elas passam todo o seu ciclo de vida em bromélias. Lá elas depositam ovos, nascem e crescem os girinos e depois cantam os adultos. Os girinos de algumas espécies de pererequinhas-de-bromélia prestam um serviço ecossistêmico importante: eles se alimentam de larvas de mosquito que são potenciais transmissores de doenças como dengue, zika e chikungunya. Protegendo as pererequinhas-de-bromélias estaremos também protegendo a nossa própria saúde”, completa.
Justamente por passarem todo seu ciclo de vida reclusos dentro das bromélias, estes pequenos anfíbios acabaram pouco documentados em expedições científicas. Ao longo de 10 anos de pesquisa de campo, a equipe do Departamento de Ciências Biológicas da UESC já descreveu cinco espécies de Phyllodytes, gênero endêmico da Mata Atlântica e associado às bromélias. E os pesquisadores estimam que ainda há pelo menos outras cinco novas espécies de pererequinhas-de-bromélia a serem descritas na região.
Ao todo, existem 16 espécies do gênero conhecidas no Brasil. Sete delas ocorrem apenas nas florestas do sul da Bahia. A recém-descrita Phyllodytes iuna é uma delas, sendo ainda mais restrita, pois a única localidade conhecida da espécie até o momento é a Estação Ecológica.
“Apesar dos esforços de coleta em diversas localidades na Mata Atlântica do Sul da Bahia, a espécie ainda não foi registrada em nenhum outro local além da Estação Ecológica de Wenceslau Guimarães”, destaca a doutoranda Laisa Santos, do Programa de Pós-Graduação em Zoologia da UESC, que também participou do registro da nova espécie.
A estação ecológica, localizada no município de Wenceslau Guimarães, ao sudoeste de Salvador. De gestão estadual, a área protegida possui cerca de 2.400 hectares.
POR DUDA MENEGASSI • ECO