NÃO PODEMOS MAIS IGNORAR OS REFUGIADOS AMBIENTAIS

Seguir adiando ações globais efetivas contra a crise do clima prejudicará milhões de pessoas, sobretudo as mais pobres

Não restam dúvidas sobre os estragos de nosso modelo de desenvolvimento sobre o clima global. Este 2023 é até agora o mais quente em 125 mil anos, mas os aportes em combustíveis fósseis e as emissões de gases de efeito estufa só aumentam, bem como o nível de mares e oceanos.

De lambuja, se multiplicam e ganham força tempestades, furacões, enchentes e secas, causando severa devastação ambiental, prejuízos econômicos colossais e trágica perda de vidas humanas.

Só nas últimas duas décadas, de US$ 140 bilhões a US$ 580 bilhões anuais remendaram danos climáticos, sobretudo nos países emergentes. No prazo, mais de um bilhão de pessoas sofreram globalmente com eventos extremos, principalmente as mais pobres.

Forçada a se deslocar pela crise do clima, desigualdade social e descaso de governos, uma massa crescente de refugiados ambientais pede atenção urgente. No Brasil, o líder latino-americano nesse quesito, meio milhão de pessoas já fogem desses desastres.

Mas, tanto aqui como lá fora, parecem faltar maiores doses daquele senso de humanidade, além de planejamento e recursos para tirar essas pessoas da periferia da agenda política.

A revisão do plano nacional para enfrentamento da crise climática abre uma janela para ações concretas pelos refugiados ambientais. Se não for possível amenizar as pressões que forçam seus deslocamentos, será necessário acomodá-los dignamente, temporária ou definitivamente.

Sobre recursos, o fundo brasileiro de mudanças do clima deve saltar de R$ 634 milhões este ano para R$ 10,4 bilhões em 2024, mas os valores devem atender especialmente à transição energética.

Necessidade histórica frente ao aumento da temperatura média planetária, o fundo climático mundial foi aprovado no primeiro dia da COP28, em Dubai. Por enquanto, apenas os países mais vulneráveis serão apoiados, mesmo com vítimas marginalizadas no mundo todo.

Já os aportes voluntários ao fundo virão de qualquer nação, mas se espera que fluam sobretudo das maiores poluidoras. De início, US$ 425 milhões já foram prometidos. Todavia, esse dinheiro cobriria apenas 0,1% dos prejuízos  climáticos nas regiões mais pobres, até 2030.

Sem muito fermento nesse bolo, milhões de vidas humanas seguirão ameaçadas. As cartas estão na mesa global da crise climática.

POR ALDEM BOURSCHEIT – ECO

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