O ex-ministro se referia a reuniões de Jair Bolsonaro com os chefes das Forças Armadas; parlamentares mostraram foto para desmentir Heleno
O general Augusto Heleno, que foi ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) entre 2019 e 2022, negou e chamou de “fantasia” a participação do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), em reuniões do ex-presidente com comandantes das Forças Armadas. Momentos depois, no entanto, ele foi desmentido por parlamentares, que divulgaram uma foto mostrando o contrário.
Heleno falou na terça-feira (26) em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos de 8 de janeiro. No momento, o ex-ministro tentava minimizar informações vazadas da delação premiada de Mauro Cid à Polícia Federal.
O militar foi questionado pela relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), se sabia da realização de uma reunião no Palácio do Planalto, sede administrativa do governo federal, em 24 de novembro de 2022.
Na ocasião, estariam presentes os então comandantes da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista; da Marinha, almirante Garnier de Souza; e do Exército general Freire Gomes. Segundo a relatora, a reunião teria sido citada por Mauro Cid em delação premiada.
Heleno disse que não teve conhecimento sobre a reunião e acrescentou: “E eu quero esclarecer que o tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões. Ele era ajudante de ordens do presidente da República. Não existe essa figura de o ajudante-de-ordens sentar numa reunião dos comandantes das Forças Armadas e participar da reunião. Isso é fantasia, isso é fantasia”.
Lula e ministros palmas
“A mesma coisa é essa delação premiada, ou não premiada, do Mauro Cid. Então, apresentando trechos dessa delação, me estranha muito, porque a delação está ainda sigilosa. Ninguém sabe o que o Cid falou”, acrescentou o general à CPMI.
Senadora apresenta foto
Em seguida, Eliziane foi às redes sociais rebater a resposta de Heleno. Ela publicou uma foto de Bolsonaro em uma reunião realizada em fevereiro de 2019, entre Bolsonaro e os chefes das Forças Armadas. O general que chefiou o GSI também aparece na imagem e, ao fundo, Mauro Cid.
“”Não vi, não lembro, não participei, não estava e não li’. O depoente de hoje demonstra que estava a passeio na chefia do GSI. Mas os fatos e dados mostram o contrário. Gen. Heleno bem posicionado numa reunião do PR com cúpula militar e com Mauro Cid”, escreveu a relatora.
“Não vi, não lembro, não participei, não estava e não li”. O depoente de hoje demonstra que estava a passeio na chefia do GSI. Mas os fatos e dados mostram o contrário. Gen. Heleno bem posicionado numa reunião do PR com cúpula militar e com Mauro Cid. pic.twitter.com/tE8mJycpiI
— Eliziane Gama (@elizianegama) September 26, 2023
O deputado Rogerio Correia (PT-MG) também levantou a questão e questionou se Heleno mentiu ao dizer que Cid não participava de reuniões. “De jeito nenhum”, respondeu o general. Em seguida, Correia mostrou a mesma foto publicada por Eliziane.
Parlamentares aliados de Bolsonaro pontuaram que o ex-ajudante de ordens não sentava à mesa das reuniões, apesar de acompanhar na mesma sala.
“O coronel Mauro Cid estava sentado atrás, esperando inclusive, se houvesse alguma necessidade do presidente. Essa é a missão do ajudante de ordens. Ele não dá palpite em uma reunião dessa, ele não levanta o braço [para falar]. As pessoas aqui estão querendo me comprometer. Vão perder tempo. […] É preciso ter senso do que está acontecendo para não fazer falsas acusações”, rebateu Heleno.
O presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), foi cobrado sobre a fala de Heleno, que assinou um termo de compromisso para dizer a verdade. Maia entendeu, no entanto, que o general não mentiu porque Cid “não estava sentado à mesa na mesma condição que o ex-presidente e os comandantes”.
Por Lucyenne Landim