Ação conta com o apoio da Polícia Militar. Rua Miguel Salazar foi fechada para o trabalho da Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia/Coordenadoria de Segurança e Inteligência, que escaneia a área para um confronto de versões.
O Ministério Público do Rio (MPRJ) faz, nesta segunda-feira (14), uma reconstituição da morte do adolescente Thiago Menezes Flausino, na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio.
O jovem de 13 anos foi morto após uma operação policial, no dia 7 de agosto. Ele estava na garupa da moto de uma amigo no interior da comunidade.
A reprodução conta com o apoio da Polícia Militar, que fechou a Rua Miguel Salazar para o trabalho da Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia/Coordenadoria de Segurança e Inteligência (Dedit). O objetivo, segundo o MP, é escanear a área e fazer uma análise de confronto de versões.
Na semana passada, quatro policiais militares que participaram da ação que terminou na morte do jovem foram afastados do serviço das ruas. Segundo a assessoria da PM, a decisão é provisória e deve permanecer até o fim das investigações.
A Polícia Civil investiga o caso e está analisando imagens de câmeras de segurança. As armas usadas pelos PMs foram apreendidas e periciadas.
A Corregedoria da Polícia Militar também está investigando o caso.
Lula disse que ato foi ‘uma irresponsabilidade’
Na quinta-feira (10), durante evento em Campo Grande, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou o caso.
“Que nunca aconteça o que aconteceu com o menino de 16 anos [Thiago tinha 13], que foi assassinado por um policial despreparado ou irresponsável”, afirmou Lula, que chegou a olhar para o governador Cláudio Castro atrás dele no palco de um evento no Rio.
Lula, então, se dirigiu diretamente a Castro e afirma:
“Governador, o presidente da República quer ter responsabilidade junto com você. Nós precisamos criar condições de a polícia ser eficaz, de a polícia ser pronta para combater o crime, mas ao mesmo tempo essa polícia precisa saber diferenciar o que é bandido e o que é um pobre que anda na rua. E, para isso, ela tem que estar bem formada.
A Polícia Militar e o governador Cláudio Castro não comentaram as declarações de Lula.
O que diz a família
Familiares afirmam que o jovem foi executado pelos policiais e falaram em cena forjada pela PM.
O tio de Thiago disse que o sobrinho foi executado por um policial quando já estava caído no chão.
“O Thiaguinho estava passeando de moto com um amigo, saindo da Cidade de Deus, que foi abordada já a tiro. Um tiro pegou na perna, o Thiaguinho caiu, aí a gente tem um trechinho da imagem, que vê o Thiago no chão, ainda vivo, e o policial acaba de executar ele”, descreveu Hamilton Bezerra Flausino.
“Não teve tiroteio, não teve tiroteio. Até porque o pessoal foi se chegando para fazer tipo uma manifestação ali. Nós, familiares, já estávamos ali, chegamos muito rápido. Então a gente ia comandando, gente, não precisa fazer negócio de queimar pneu. Não, não, não, está tranquilo, deixa que a gente vai resolver pacífico. E assim foi, mas eles forjaram um tiroteio, dando um tiro”, acrescentou.
Mãe de Thiago, Priscila Menezes disse que a família está muito abalada “com o fato de estarem acusando uma criança de 13 anos de ser envolvida com tráfico”.
“Ele não era nada. Ele era apenas um adolescente ceifado por essa necropolícia que a gente tem no nosso estado. Mais uma vítima que entra para a estatística.”
Acusação de câmera adulterada
A família ainda acusa a Polícia Militar de ter adulterado o registro de uma câmera de segurança, com o objetivo de apagar a ação:
“Hoje em dia as câmeras têm internet, bluetooth. Eles conseguiram, com o celular, ter acesso e apagaram só a parte da execução, mas a gente tem um minuto antes e, após um minuto e um pouquinho, continua a imagem. Dá para ver ainda um pedaço do corpo do PM dando o último tiro para executar ele no chão”, detalhou.
Por Henrique Coelho, Rafael Nascimento e Betinho Casas Novas, g1 Rio e TV Globo