Em delação, Cid disse à Polícia Federal que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com a cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para discutir detalhes de um plano de golpe para não deixar o poder
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu a um pedido feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e determinou que a Polícia Federal cumpra diligências a fim de encontrar provas que corroborem a delação do tenente-coronel Mauro Cid, especialmente com relação à suposta tentativa de golpe capitaneada por Jair Bolsonaro (PL).
Em sua delação, Cid disse à Polícia Federal que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com a cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para discutir detalhes de um plano de golpe para não deixar o poder. O encontro teria ocorrido quando Bolsonaro ainda estava na Presidência, após as eleições do ano passado.
Autoridades com acesso ao conteúdo dos depoimentos do ex-auxiliar de Bolsonaro disseram à CNN, em meados de setembro, que, no encontro, as Forças Armadas teriam sido consultadas sobre a possibilidade de uma intervenção militar.
A resposta da cúpula da Marinha, segundo Cid, teria sido que as tropas estavam prontas para agir, apenas aguardando uma ordem dele. Já o comando do Exército não teria aceitado o plano.
À época, a defesa de Bolsonaro afirmou em nota que o ex-presidente “jamais compactuou” com qualquer movimento ilegal. A Marinha e o Exército disseram que não se manifestariam sobre investigações em curso, mas ambas as Forças reiteraram que atuam seguindo a Constituição.
A delação de Cid foi fechada entre a PF e a defesa do tenente-coronel e homologada por Moraes em setembro. Desde o início, a PGR alega ter sido deixada de fora das negociações para fechar o acordo, contesta a rapidez com que ele foi firmado e sustenta não haver provas do que Cid diz.
Dentro do Supremo e da própria PF, a posição da PGR é minimizada, tratada como uma questão institucional —uma vez que o Ministério Público sempre teve posição contrária à possibilidade de a Polícia Federal poder fechar acordos de delação.
Subprocurador-geral da República: Mauro Cid não apresentou provas do que falou | CNN 360ºSubprocurador-geral da República: Mauro Cid não apresentou provas do que falou | CNN 360º
Nos últimos meses, ficaram responsáveis por tentar participar da delação os subprocuradores Humberto Jacques de Medeiros, Lindôra Maria Araújo e, mais recentemente, Carlos Frederico Santos.
Fred, como é conhecido na PGR, vem questionando publicamente a delação do ex-ajudante-de-ordens de Jair Bolsonaro. Em entrevista à CNN nesta semana, o subprocurador afirmou que não foram apresentadas provas por Cid nos depoimentos que prestou aos investigadores.
“Então, nós da Procuradoria-Geral da República pedimos uma série de exigências que podem vir a corroborar o que está na delação. Mas dizer que nós temos uma delação forte, que ela sustenta uma denúncia, hoje, isso não existe. Amanhã poderá existir”, afirmou.
Em meio à insatisfação com a suposta ausência de provas, Fred pediu a Moraes que determinasse que os investigadores cumprissem diligências com o objetivo de levantar provas que sustentem as afirmações de Mauro Cid.
A PGR fundamenta seu posicionamento afirmando ser necessário comprovar os fatos narrados por Cid aos investigadores. A avaliação é a de que a delação não fica de pé somente com base nos depoimentos do tenente-coronel.
Por Teo Cury e Thais Arbex- CNN