Ministros do BRICS dão mostras de força à medida que o mandado de prisão de Putin se aproxima

Por Wendell Roelf

CIDADE DO CABO, 1 Jun (Reuters) – Os ministros das Relações Exteriores do BRICS afirmaram nesta quinta-feira a ambição de seu bloco de rivalizar com as potências ocidentais, mas suas conversas na África do Sul foram ofuscadas por questões sobre se o presidente da Rússia seria preso se participasse de uma cúpula em agosto.

A ministra das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, disse que seu país está avaliando opções caso Vladimir Putin, sujeito a um mandado de prisão por crimes de guerra emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), compareça à planejada cúpula do BRICS em Joanesburgo.

Como membro do TPI, a África do Sul seria teoricamente obrigada a prender Putin, e Pandor foi bombardeada com perguntas sobre isso ao chegar para uma primeira rodada de negociações com representantes do Brasil, Rússia, Índia e China.

“A resposta é que o presidente (Cyril Ramaphosa) indicará qual é a posição final da África do Sul. No momento, um convite foi feito a todos os chefes de estado (BRICS)”, disse ela.

Em uma coletiva de imprensa mais tarde, os ministros evitaram uma enxurrada de perguntas sobre a questão de Putin.

O TPI acusou Putin em março do crime de guerra de deportar crianças à força do território ocupado pela Rússia na Ucrânia. Moscou nega as acusações. A África do Sul havia convidado Putin em janeiro.

Putin não confirmou seus planos, com o Kremlin apenas dizendo que a Rússia participaria no “nível adequado”.

Os ministros procuraram chamar a atenção para sua ambição de aumentar sua influência em um mundo multipolar.

Subrahmanyam Jaishankar, da Índia, falou da concentração do poder econômico que, segundo ele, “deixa muitas nações à mercê de poucas”, e da necessidade de reformar a tomada de decisões globais, inclusive pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

“Formas antigas não podem abordar novas situações. Somos um símbolo de mudança. Devemos agir”, disse ele.

ALARGAMENTO

Antes visto como uma associação frouxa de economias emergentes díspares, o BRICS assumiu nos últimos anos uma forma mais concreta, impulsionado inicialmente por Pequim e, desde o início da guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022, com ímpeto adicional de Moscou.

O bloco lançou um Novo Banco de Desenvolvimento em 2015, embora tenha parado de financiar projetos na Rússia para cumprir as sanções impostas pelos países ocidentais após a invasão da Ucrânia.

Pandor disse que um executivo sênior do banco informou os ministros sobre “o uso potencial de moedas alternativas às atuais moedas negociadas internacionalmente”.

Ela disse que o objetivo é “garantir que não sejamos vítimas de sanções que tenham efeitos secundários em países que não têm envolvimento em questões que levaram a essas sanções unilaterais”.

Os ministros também discutiram planos para potencialmente admitir novos membros no clube. Pandor disse que mais trabalho é necessário para tornar isso possível e ela espera que um relatório sobre o assunto esteja pronto na cúpula de agosto.

O vice-ministro da China, Ma Zhaoxu, disse que seu país está feliz com a perspectiva de mais países aderirem ao BRICS, pois isso aumentaria a influência do bloco e lhe daria mais poder para servir aos interesses dos países em desenvolvimento.

O bloco do BRICS “foi inclusivo… em nítido contraste com o pequeno círculo de alguns países, então acredito que a ampliação do BRICS será benéfica para os países do BRICS”, disse ele.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, e seu homólogo saudita, o príncipe Faisal bin Farhan Al Saud, estiveram na Cidade do Cabo para participar da reunião do BRICS, que continua na sexta-feira.

Seus dois países, juntamente com Venezuela, Argentina, Argélia e Emirados Árabes Unidos, estão entre os que se inscreveram formalmente para ingressar no BRICS ou manifestaram interesse, disseram autoridades.

Por: Redação

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