Brasil ocupa atualmente a presidência temporária do Mercosul e Lula tem repetido sua intenção de concluir o acordo comercial com a União Europeia até o final deste ano
O Ministério das Relações Exteriores informou nesta quinta-feira que o Mercosul enviou na noite da véspera à União Europeia sua resposta à carta adicional enviada pelo bloco europeu aos países sul-americanos no âmbito das negociações de um acordo de livre comércio entre os dois blocos e que negociadores dos dois lados voltarão a conversar ainda nesta quinta.
“Resposta do Mercosul à UE foi enviada ontem à noite. Hoje há videoconferência entre Mercosul e UE para avançar a discussão, que tem sido objeto de dinâmica frequente de encontros entre os negociadores”, disse a assessoria de imprensa do Itamaraty.
Dois diplomatas europeus confirmaram a informação divulgada pelo Itamaraty.
Uma fonte do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai disse à Reuters que os países do Mercosul — formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai — aparentemente concordaram com a resposta à UE, superando as tensões internas do bloco que haviam adiado o envio da resposta.
“Há uma concordância geral com o Brasil em não aceitar os termos que prejudicam o desenvolvimentos das nações do Mercosul”, disse essa fonte.
A carta adicional enviada pelos europeus, com cobranças ao Mercosul na área ambiental, já foi classificada de “inaceitável” pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirma que o documento contém ameaças de sanções ao Brasil e que não se pode, em um diálogo entre parceiros, haver ameaças.
O Brasil ocupa atualmente a presidência temporária do Mercosul e Lula tem repetido sua intenção de concluir o acordo comercial com a União Europeia até o final deste ano.
Em entrevista coletiva nesta semana em Nova Délhi, na Índia, onde participou da reunião de cúpula do G20, Lula defendeu uma reunião de cúpula entre as lideranças do Mercosul e da UE para que haja uma definição sobre o futuro do acordo.
Lula disse ainda que, caso o pacto comercial não seja fechado nos próximos meses, é necessário decidir se as duas partes querem ou não o acordo e, em caso negativo, parar de discuti-lo.
Na coletiva na capital indiana, Lula também repetiu a oposição do Brasil à abertura do setor de compras governamentais, argumentando mais uma vez que essas aquisições são parte das políticas industriais dos países.
Também nesta semana, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse durante discurso sobre o Estado da União no Parlamento Europeu em Estrasburgo, na França, que o bloco quer concluir o acordo com o Mercosul, que seria o maior já firmado pela UE em termos populacionais, até o final deste ano.
No entanto, divisões internas no bloco sul-americano têm reduzido as expectativas de que um pacto comercial seja atingido ainda em 2023 e fatores como a eleição para o Parlamento Europeu no ano que vem e a eleição presidencial da Argentina neste ano podem complicar ainda mais o cenário.
Os negociadores da UE aguardavam a resposta do Mercosul à carta adicional desde março. Muitos esperavam que o acordo fosse rapidamente concluído no governo Lula, que alterou a política ambiental do país para aumentar a proteção da floresta amazônica desde que tomou posso em janeiro.
Por Reuters