Ação conjunta das polícias Civil e Militar ocorre no Complexo da Maré, Vila Cruzeiro e Cidade de Deus
As polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro deflagraram uma megaoperação no Complexo da Maré e na Vila Cruzeiro, ambas localizadas na zona Norte do Rio de Janeiro e na Cidade de Deus, na zona Oeste. A ação mobilizou mais de mil policiais, quatro aeronaves e 10 blindados das polícias.
De acordo com o governo do estado, as forças de segurança estão usando alto investimento em tecnologia como drones com câmeras que fazem mapeamento de áreas em 3D e uma câmera com zoom de longo alcance acompanhadas em tempo real no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) para o combate ao crime.
A ação impactou o funcionamento de escolas e equipamentos de saúde na capital fluminense. Segundo levantamento do jornal O Globo, 20 mil alunos estão sem aulas por conta da operação. A Secretaria municipal de Educação informou que, no Complexo da Maré, são 41 unidades sem funcionar, com 13.799 alunos afetados. Já na Vila Cruzeiro, 16 escolas, onde estudam 4.757 alunos, fecharam as portas.
De acordo com a reportagem, além dessas escolas, três da rede estadual de ensino também fecharam as portas na Maré. Nas unidades, segundo a Secretarial estadual de Educação, estudam cerca de 2 mil alunos.
Já com relação aos equipamentos de saúde, segundo o portal Voz das Comunidades, na região do Complexo da Maré, as clínicas da família (CF) Jeremias Moraes da Silva, Augusto Boal, Adib Jatene e Diniz Batista dos Santos, e o Centro Municipal de Saúde (CMS) Vila do João acionaram o protocolo de acesso mais seguro e, para segurança de profissionais e usuários, suspenderam o funcionamento na manhã desta segunda-feira (9).
Em entrevista na manhã de hoje, o secretário estadual de Polícia Civil fluminense, José Renato Torres, informou que a operação desta segunda-feira busca cumprir 100 mandados de prisão. As comunidades são controladas pelo Comando Vermelho, facção criminosa cujos integrantes, segundo a polícia, estariam envolvidos na morte dos três médicos na semana passada, na Barra da Tijuca. “Todos os integrantes dessa facção criminosa que têm mandados de prisão são alvos da operação”, explicou Torres.
“Hoje, especificamente, queremos atacar essa facção criminosa que está tentando expandir seu território e gerando conflito com outras organizações, trazendo certa instabilidade na nossa segurança”, concluiu.
Dois helicópteros da polícia foram atingidos e tiveram que pousar para verificar possíveis danos durante a incursão.
No início da tarde, o Brasil de Fato procurou a Polícia Militar para informações sobre a operação simultânea nas três comunidades, mas a equipe não obteve resposta até o fechamento da reportagem.
Questionamento
Nas redes sociais, o Fórum Popular de Segurança Pública do Rio de Janeiro, articulação de movimentos sociais de favelas, movimentos de familiares de vítimas de violência de Estado, organizações da sociedade civil, universidades, questionou a atuação das polícias.
“Até este momento temos notícias de que quatro pessoas foram presas, a justificativa desta megaoperação com aparato de armas de guerra é para cumprir 100 mandados de prisão contra uma única facção de tráfico e retiradas de barricadas”, disse o comunicado do FPOPSEG nas redes sociais.
“O estado investe grande parte do seu orçamento para uma política de segurança pública que traz medo para sua população, sem resultados concretos, gerando a suspensão do funcionamento de escolas e aparelhos de saúde, assim como impede os moradores de se deslocarem”, conclui a nota.
O Instituto Marielle Franco também questionou a eficácia do modelo de política de segurança adotado no Rio de Janeiro.
Presídios
Além da ação em favelas da capital, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro (Seap) realizou uma operação especial de inteligência na Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho (Bangu 3) e na Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho (Bangu 4), com o objetivo de impedir que lideranças criminosas presas pudessem transmitir ordens a seus comparsas durante a Operação Maré.
Segundo o governo do estado, a intervenção, que contou com a participação de cerca de 250 inspetores de polícia penal, teve como objetivo desarticular a rede de comando das facções que atuam na região, através do bloqueio prévio dos aparelhos celulares e apreensões de equipamentos.