Documentário exibe nova versão sobre a origem da imagem premiada com o Pulitzer; AP mantém autoria atribuída a Nick Út, mas admite incertezas históricas.
A icônica imagem da “Menina do Napalm”, símbolo da brutalidade da Guerra do Vietnã e vencedora do prêmio World Press Photo de 1973, teve sua autoria colocada em dúvida nesta sexta-feira (16). A organização World Press Photo anunciou oficialmente a suspensão do crédito anteriormente atribuído ao fotógrafo Nick Út, da agência americana Associated Press (AP), e declarou que continuará investigando o caso.
A decisão vem após a exibição do documentário The Stringer, no Festival de Cinema de Sundance, em janeiro deste ano. O filme levanta a hipótese de que a imagem não teria sido registrada por Nick Út, como historicamente reconhecido, mas sim por Nguyen Thanh Nghe, um colaborador vietnamita freelancer que também estava presente na cena.
A fotografia, que retrata a menina Phan Thi Kim Phuc correndo nua, em lágrimas, com queimaduras provocadas por um ataque de napalm, tornou-se um símbolo global do horror da guerra. Registrada em 8 de junho de 1972, no vilarejo de Trang Bang, no Vietnã, a imagem contribuiu para mudar a percepção mundial sobre o conflito. Além do World Press Photo, a foto também rendeu a Út o prestigioso Prêmio Pulitzer.
Segundo comunicado da World Press Photo, a organização conduziu uma investigação independente entre janeiro e maio, após as revelações do documentário. O relatório conclui que, com base na análise do posicionamento dos fotógrafos presentes, da distância em relação ao grupo de crianças e do tipo de equipamento utilizado, é possível que outros dois profissionais — Thanh Nghe ou Huynh Cong Phuc — estivessem em melhor posição para capturar a imagem icônica do que o então jovem repórter fotográfico Nick Út.
“A partir de hoje, 16 de maio, a World Press Photo suspende a atribuição da foto ‘The Terror of War’ a Nick Út, com efeito imediato”, declarou a instituição. A decisão não equivale à atribuição da imagem a outro fotógrafo, mas sim ao reconhecimento de que a autoria não pode ser confirmada com segurança neste momento.
A Associated Press, por sua vez, se manifestou afirmando que continuará reconhecendo Nick Út como autor da fotografia, embora tenha admitido, em nota oficial, que sua investigação interna — também conduzida ao longo de quase um ano — “levantou questões importantes que talvez nunca sejam respondidas”.
“A verdade é que, passadas mais de cinco décadas, é impossível determinar com absoluta certeza o que aconteceu naquele dia. A falta de evidências conclusivas, as limitações da tecnologia da época e a morte de pessoas-chave envolvidas tornam a tarefa extremamente difícil”, afirmou a agência.
Apesar das dúvidas levantadas, a AP também destacou que não encontrou provas de que Thanh Nghe, citado no documentário, tenha sido o autor da imagem. “Não há evidências concretas que sustentem essa alegação. Portanto, não há base para retirar o crédito de Nick Út, ainda que não possamos provar de forma definitiva sua autoria”, concluiu o comunicado.
O debate reacende uma questão sensível no universo do fotojornalismo: a dificuldade de atribuição de autoria em zonas de conflito e a valorização histórica de fotógrafos locais, muitas vezes invisibilizados nos registros oficiais.
Por Redação Gazeta Rio