LULA SE REÚNE COM PRESIDENTES SUL-AMERICANOS EM BRASÍLIA

“Deixamos que ideologias nos dividissem”, discursa Lula em abertura de cúpula da América do Sul

Por Pedro Rafael Vilela e Mariana Costa/Ana Flávia Castro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o anfitrião de um encontro com mais dez presidentes dos países da América do Sul nesta terça-feira (30), no Palácio do Itamaraty, em Brasília. O evento iniciou as 9h, estiveram no encontro Alberto Fernández (Argentina), Luís Arce (Bolívia), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Guillermo Lasso (Equador), Irfaan Ali (Guiana), Mário Abdo Benítez (Paraguai), Chan Santokhi (Suriname), Luís Lacalle Pou (Uruguai) e Nicolás Maduro (Venezuela).

A única ausência em nível presidencial é a do Peru, cuja presidente Dina Boluarte está impossibilitada de comparecer por questões constitucionais. O Peru vive uma crise política desde a destituição do agora ex-presidente Pedro Castillo no fim do ano passado. No lugar de Dina Boluarte virá o presidente do conselho de ministros do país, Alberto Otárola.

Os líderes sul-americanos atenderam a um convite feito por Lula, que busca retomar a cooperação dentro do continente. Segundo a embaixadora Gisela Figueiredo Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores, as principais pautas, além da integração, são em torno de questões comuns nas áreas de saúde, infraestrutura, energia, meio ambiente e combate ao crime organizado.

“A ideia é retomar o diálogo e a cooperação com países sul-americanos. Identificar denominadores comuns. A região dispõe de capacidades que serão chaves no futuro da humanidade, como recursos naturais, água, minérios, área para produção de alimentos. Uma agenda concreta de cooperação pode ser iniciada imediatamente”, disse a embaixadora, durante entrevista para dar informações gerais sobre a cúpula.

O primeiro a chegar à capital federal foi o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que fez uma reunião bilateral com o presidente Lula no Palácio do Planalto. O encontro marcou a retomada das relações entre os dois países. Maduro volta ao Brasil após oito anos. Por divergências políticas e ideológicas, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro cortou as relações diplomáticas do Brasil com a Venezuela, que foram oficialmente retomadas na atual gestão. Lula avaliou como plena a reconstrução das relações entre Brasil e Venezuela.

Itamaraty

No discurso de abertura, o presidente brasileiro afirmou que é preciso “redefinir uma visão comum e ter visões concretas para o bem-estar das nossas populações”. Também defendeu que a ideologia fez a região deixar de lado a integração e se dividisse.

 “É com grande alegria que recebo meus amigos presidentes. Agradeço por terem atendido o chamado e terem se esforçado por estar aqui. O que nos reúne hoje é o sentimento de urgência de voltar a olhar coletivamente de olhar para nossa região. De redefinir uma visão comum e ter visões concretas para o bem-estar das nossas populações”, apontou Lula.

De acordo com o presidente brasileiro, durante muitos anos, a América do Sul diminuiu a população que passava fome e os conflitos sociais. “Reduzimos o desmatamento, estimulamos o diálogo e cooperação, trazendo cidadania. Nos relacionamos com África e Ásia, efeitos formidáveis para uma região herdeira do colonialismo”, disse.

Lula citou o governo de Jair Bolsonaro, a que chamou de “negacionista”. “Nosso país optou pelo isolamento do mundo e do seu entorno. Essa postura foi decisiva para o descolamento do país dos grandes temas que marcaram o cotidiano dos nossos vizinhos”, continuou.

Segundo o presidente, esse tipo de gestão no Brasil e em outros países fez com que a América do Sul “interrompesse esforços de integração”. “Deixamos que ideologias nos dividissem. Abandonamos canais de diálogo e mecanismos de cooperação. Com isso, todos perdemos”, discursou.

Lula propôs a criação de moeda comum na América do Sul para fins comerciais

O presidente Lula propôs a criação de uma moeda comum para fins comerciais entre os 12 países da América do Sul.

Em alinhamento com sua contestação pública à predominância do dólar nas transações financeiras globais, Lula sugeriu que todos os países da região adotassem uma moeda comum. Esta proposta, segundo o presidente, seria uma maneira de “aprofundar nossa identidade sul-americana também na área monetária”, além de introduzir mecanismos de compensação mais eficientes.

Entretanto, Lula não propõe a substituição do real ou das moedas nacionais em uso pelas populações. A moeda comum seria usada exclusivamente para pagamentos de importações e exportações. Esta ideia surge como resposta à escassez de dólar e aos impactos causados pela política monetária de importantes parceiros comerciais, como a Argentina.

O presidente Lula já expressou o sonho de criar uma moeda semelhante ao euro para fins de comércio exterior, algo discutido no Novo Banco de Desenvolvimento, instituição financeira criada por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Ademais, os bancos centrais do Brasil e da China iniciaram uma cooperação neste ano para facilitar o comércio e investimentos entre ambos sem a necessidade de uso do dólar.

Além da proposta da moeda comum, Lula apresentou uma série de ideias aos presidentes sul-americanos, que incluem a retomada da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), a formação de um comitê de diálogo presidencial, mobilização de bancos de desenvolvimento para o crescimento econômico e social, e a implementação de iniciativas de convergência regulatória.

Lula também destacou a importância da reintegração regional, com a retomada da Unasul e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Ele apontou o isolacionismo do ex-presidente Jair Bolsonaro como um fator determinante para a perda de liderança regional do Brasil.

Por: CB

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