Presidente se reuniu com chefes das Forças e ministro da Defesa para reforçar combate ao crime organizado no Rio. Militares e PF darão apoio, mas não substituirão polícia estadual, diz Lula.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (27) que, enquanto for presidente, não vai assinar decretos de “garantia da lei e da ordem” (GLO) – e que não quer militares das Forças Armadas nas favelas “brigando com bandido”.
Lula deu a declaração durante café da manhã, no Palácio do Planalto, com jornalistas que participam da cobertura diária da Presidência da República.
Na conversa, o presidente também:
– lamentou a demissão de mulheres no governo e rejeição pelo Senado de indicado para DPU;
disse que “dificilmente chegaremos à meta [fiscal] zero” em 2024;
afirmou que ainda não escolheu indicado para STF: “Tá chegando a hora”;
disse que pretende ir à COP em Dubai em dezembro e quer viajar pelo Brasil em 2024;
e defendeu fim do poder de veto no Conselho de Segurança da ONU.
Nesta semana, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), esteve em Brasília para pedir apoio federal no combate às milícias e ao crime organizado no estado. O governo já enviou a Força Nacional e, agora, discute como enviar apoio logístico das Forças Armadas.
“Essa semana, tive reunião com os três comandantes das Forças Armadas e com o ministro [da Defesa] José Múcio para discutir uma participação deles no Rio de Janeiro. Eu não quero as Forças Armadas nas favelas brigando com bandido. Não é esse o papel das Forças Armadas e, enquanto eu for presidente, não tem GLO”, declarou Lula.
“Eu fui eleito para governar esse país e vou governar esse país. O que eu determinei é que a Aeronáutica pode reforçar o policiamento nos aeroportos; a Marinha, nos portos brasileiros”, prosseguiu.
O presidente foi questionado por jornalistas sobre os planos do governo para normalizar as relações entre civis e militares, após o crescimento da participação militar no governo durante a gestão Jair Bolsonaro. Lula negou que pretenda “intervir” nas Forças para reduzir essa tensão.
“Eu acho que a palavra intervenção não é a mais correta. O que nós estamos fazendo é tentando mostrar para a sociedade brasileira que militar não é melhor que civil, e civil não é melhor que militar. Que os dois são brasileiros, estão subordinados a uma Constituição, cada instituição tem sua função”, disse.
“O que aconteceu recentemente com o 8 de janeiro foi um desvio, pela existência de um governante que sabia fazia tudo, menos governar. Que achava que poderia utilizar as instituições como instrumento dele para fazer política. Que não tinha nada de republicano na cabeça dele”, seguiu, em referência a Bolsonaro.
Ajuda federal não substituirá polícia
Ainda sobre o apoio federal no combate ao crime no Rio, Lula afirmou que o papel das Forças Armadas e da Polícia Federal será de apoio logístico, e não de atuação direta na repressão aos crimes.
Em transmissão em redes sociais, na terça (24), o presidente já havia citado a possibilidade de enviar militares da Marinha e da Aeronáutica para reforçar a fiscalização nos portos e aeroportos do estado, respectivamente.
“Porque nos aeroportos, as drogas e as coisas que são contrabandeadas são quilos. Nos navios, são toneladas, são contêineres”, disse Lula nesta sexta.
“Nós vamos ajudar. Nem a Polícia Federal tem que fazer um papel que é da polícia do estado. A PF tem que ajudar investindo em inteligência, detectando e prendendo as pessoas. Mas a gente não vai fazer nenhuma intervenção como já foi feita pouco tempo atrás, em que se gastou uma fortuna com o Exército no Rio de Janeiro e não resolveu nada.”
“Quando você faz uma intervenção abrupta, os bandidos tiram férias. Quando termina a intervenção, eles voltam. Então, não queremos isso”, finalizou.
Por Guilherme Mazui, Delis Ortiz, Karla Lucena, g1, TV Globo e GloboNews