Estudo da Aneel e do ONS será entregue nos próximos dias para embasar a decisão
Diante da seca que afeta os reservatórios de hidrelétricas, a maior fonte de energia do Brasil, e do calor que impulsiona o consumo de eletrodomésticos como o ar-condicionado, o governo federal discute a possível volta do horário de verão. O presidente Lula (PT) deve tomar a decisão ainda nesta semana, conforme informou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG). O estudo técnico, preparado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), será determinante para essa escolha. No entanto, a decisão envolve também questões políticas e sociais, dada a influência direta que o horário de verão exerce sobre a rotina da população.
Especialistas ouvidos pelo g1 destacaram os pontos positivos e negativos da medida. O presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales, argumenta que a economia de energia, principal justificativa para o horário de verão, atualmente seria reduzida, de apenas 0,5%. “Antigamente, o pico máximo de consumo ocorria no final do dia. Hoje, ocorre no meio do dia, e o horário de verão não interfere nisso”, afirmou Sales.
A adoção do horário de verão tem sido amplamente discutida nos últimos anos, tanto no Brasil quanto em outros países. Para os defensores da medida, a principal vantagem está no alívio que ela oferece ao sistema elétrico durante momentos críticos, como o início da noite. “Mesmo que a influência do horário de verão seja pequena, ela ajuda a atenuar essa rampa, reduzindo um pouco a necessidade de esforço das usinas”, explicou Cláudio Sales.
No entanto, os contrários à medida defendem que o impacto energético hoje é mínimo, e os benefícios que existiam há décadas não se aplicam mais ao contexto atual. “Nós estamos num período de calor intenso, onde as cargas mais utilizadas são ar-condicionado, condicionadores de ar, ventiladores. Essas cargas consomem bastante energia durante o período de verão, muito mais que a iluminação, até mesmo mais que o chuveiro”, ressaltou o professor Luciano Duque, mestre em Energia Elétrica.
Além disso, especialistas também apontam para os possíveis transtornos na adaptação dos ciclos biológicos da população, especialmente para aqueles que precisam acordar cedo e iniciar o dia antes do amanhecer. “A implementação do horário de verão, acredito que não vá economizar energia o suficiente. E, sim, vai trazer um transtorno à população. Vai ter um transtorno aí, de adaptação de horário. Vai ter a questão de saúde também nas primeiras semanas”, diz Duque.
Impactos econômicos e sociais
Em contrapartida, setores como o de bares e restaurantes são fortemente favoráveis à volta do horário de verão. Segundo empresários do ramo, a medida estimula as pessoas a permanecerem mais tempo fora de casa após o trabalho, criando oportunidades para atividades de lazer, como happy hours e jantares. A iluminação natural prolongada também contribui para a sensação de segurança e para a movimentação das ruas e transporte público.
Desde sua extinção em 2019, o setor lamenta a perda do incentivo gerado pelo horário de verão. Além do impacto econômico, há também uma questão de dinâmica social. As pessoas aproveitam mais as cidades, o que influencia de forma positiva a segurança e o trânsito, destacam os defensores da medida.
Histórico da medida
O horário de verão foi introduzido no Brasil em 1931, durante o governo de Getúlio Vargas, como uma tentativa de otimizar o uso de luz natural e economizar energia. Contudo, sua adoção sem interrupções só ocorreu a partir de 1985, no fim do regime militar. Desde então, o horário de verão passou por várias mudanças, com estados e regiões entrando e saindo da medida ao longo dos anos.
A prática é comum em vários países, principalmente aqueles fora da região tropical, como Canadá, Austrália, México e Uruguai.
Por 247