Apesar da perda de hegemonia a nível estadual, aprovação da gestão na capital pode levar PSB à 4ª vitória consecutiva
Durante o carnaval do Recife um dos assuntos mais comentados foi a coloração do cabelo do prefeito da cidade, João Campos (PSB), que “nevou” o visual aderindo a um costume das periferias na abertura do Carnaval na cidade. Pesquisas indicam que essa popularidade do prefeito não “neva” apenas nas redes sociais e reflete também sobre as intenções de voto na capital pernambucana.
O PSB sofreu um duro golpe em 2022, mas ainda segue com relevante força eleitoral. Na última eleição, a sigla buscava o 5º mandato consecutivo no Governo do Estado, mas sequer chegou ao 2º turno, assistindo a disputa entre duas ex-socialistas, com Raquel Lyra (PSDB) vencendo Marília Arraes (SD). Mas a presença da adversária tucana no Palácio do Campo das Princesas parece não ter afetado João Campos (PSB), que chega ao ano eleitoral com vantagem sobre seus potenciais adversários.
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Uma pesquisa do instituto Ipespe em parceria com o Jornal do Commercio, divulgada em dezembro de 2023, mostrou Campos com percentuais que variaram entre 72% e 78% em possíveis cenários de segundo turno. A pesquisa não consultou cenários de 1º turno.
Campos leva ampla vantagem sobre a vice-governadora Priscila Krause (CD) ou o secretário estadual de turismo e esportes, Daniel Coelho (CD) – 74% x 13% em ambos os cenários-, sobre o ex-ministro de Bolsonaro, Gilson Machado (PL) – 77% x 6% -, e sobre Dani Portela (PSOL) ou Túlio Gadelha (Rede) – 78% x 5%.
Na federação partidária que une PSDB e Cidadania, o candidato mais provável é Daniel Coelho (CD), que já disputou a prefeitura da capital outras duas vezes. Em 2012, quando era deputado estadual, obteve 247 mil votos (27,6%) e ficou em 2º lugar, sendo derrotado por Geraldo Julio (PSB) ainda no 1º turno.
Na eleição seguinte, em 2016, como deputado federal, Coelho teve um desempenho inferior, alcançando 162 mil votos (18,6%), ficando em 3º lugar, fora do 2º turno. Daniel optou por não disputar o pleito municipal de 2020 e, em 2022, o tucano não conseguiu se reeleger para a Câmara Federal. Hoje é secretário de turismo e lazer de Pernambuco e deve contar com o apoio da governadora Raquel Lyra (PSDB).
O palanque bolsonarista deve ser encabeçado pelo ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto (PL), que disputou um mandato eletivo pela primeira vez em 2022, mirando o Senado, quando obteve 1,32 milhão de votos (29,5%), ficando em 2º lugar, sendo derrotado pela petista Teresa Leitão (46%).
Na federação Rede-PSOL, a hegemonia nos espaços decisórios é do PSOL. O nome mais cotado é o de Dani Portela (PSOL), vereadora mais votada do Recife em 2020 (14,1 mil votos) e deputada estadual eleita em 2022 (38,2 mil votos), em segundo plano vem o do deputado federal Tulio Gadelha (Rede). Dani nunca disputou a prefeitura, mas em 2018 foi candidata ao Governo do Estado, alcançando 188 mil votos (5%).
A deputada estadual Dani Portela (PSOL) é o nome mais cotado da federação Rede-PSOL para a disputa no Recife / Divulgação
Ainda segundo a pesquisa, o “adversário” com maior intenção de votos contra João Campos foi o deputado estadual e ex-prefeito João Paulo (PT), que aparece com 20% num 2º turno com João Campos. No entanto, os dois “Joões” devem estar no mesmo palanque durante a campanha, visto que o PT é cotado para indicar o vice de Campos.
Os principais petistas cotados são o próprio João Paulo, o médico e ex-vereador da capital Mozart Sales (hoje assessor da Presidência da República). Ventila-se ainda a possibilidade de o engenheiro e empresário Roberto Gusmão (PSB), ex-presidente de Suape e hoje atuando na iniciativa privada, se filiar ao PT e compor a chapa com João Campos.
Boa avaliação
Os números da pesquisa pré-eleitoral do Ipespe são reforçados pela pesquisa de avaliação da AtlasIntel. Levantamento realizado no fim de dezembro de 2023 aferiu que 80% dos recifenses aprovam a gestão de Campos, contra 18% de reprovação. A pesquisa foi realizada com 800 recifenses. Em todo o Brasil foram 14,3 mil entrevistados em todas as capitais do Brasil sobre os seus respectivos gestores. O prefeito do Recife obteve o maior índice de aprovação do país.
A gestão iniciada em 2021 decolou em 2023, ao conseguir um empréstimo de R$ 2 bilhões junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que tem direcionado recursos para estudos e projetos que visem reduzir os impactos das mudanças climáticas. Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, o Recife é a 16ª cidade mais vulnerável do mundo às mudanças climáticas.
Os R$ 2 bilhões do BID foram enviados para a Prefeitura do Recife investir em obras de contenção de encostas, escadarias, saneamento, pavimentação, moradia, equipamentos urbanos e de convivência (parques e praças), além dos alargamentos das calhas dos rios Tejipió, Jiquiá e Moxotó. A popularidade do prefeito foi reforçada por uma bem-humorada gestão de redes sociais.
Cientista política reforça favoritismo de Campos
A cientista política Priscila Lapa, em entrevista ao repórter Rodolfo Rodrigo, do Brasil de Fato Pernambuco, avalia que o “franco favoritismo” de João Campos (PSB) traz dificuldades para os grupos de oposição escolherem seus candidatos. “Apesar de ser uma gestão de continuidade, ele tem feito inovações e conquistado para seu partido e para sua atuação política uma visibilidade em âmbitos estadual e nacional”, diz ela, lembrando ainda boa performance do prefeito nas redes sociais.
Lapa aponta como elemento que pode jogar contra o prefeito é o fato de ele integrar “um grupo político que teve grande hegemonia, mas que sofreu um grande desgaste no último ciclo”. “Vários políticos se descolaram do PSB para atuarem de forma mais independente, mas o bom desempenho de Campos já tem provocado uma reaproximação”, pontua a cientista política.
A hegemonia partidária
Hegemônico em Pernambuco durante 16 anos – desde a eleição de Eduardo Campos (2006) para governador, até 2022 -, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) lidera com relativa tranquilidade as disputas pela Prefeitura do Recife, apesar de ter perdido o Governo do Estado. O partido chegou a ter cerca de 40% das prefeituras pernambucanas.
Na última disputa municipal, em 2020, os socialistas elegeram 53 (29%) dos 183 prefeitos de Pernambuco. O segundo partido com mais executivos municipais é o MDB, com 23 prefeituras. O PSDB da governadora Raquel Lyra possui apenas 5.
Mas em 2022 o candidato Danilo Cabral (PSB) teve apenas 18% dos votos e ficou em 4ª lugar. Apesar do desempenho fraco na disputa pelo Governo, em Pernambuco o PSB foi o partido que mais elegeu deputados federais (5 de 25) e estaduais (14 de 49).
Fonte: BdF Pernambuco