IRÃ BUSCA ACORDO NUCLEAR JUSTO E EQUILIBRADO COM OS EUA EM MEIO A CRESCENTES TENSÕES

Ministro iraniano do Exterior afirma que negociações serão indiretas e restritas à questão nuclear

Em visita oficial a Omã neste sábado (12), o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, afirmou que seu país está disposto a firmar um acordo “justo e honroso” com os Estados Unidos, desde que as negociações ocorram em pé de igualdade. A declaração foi feita em meio às conversas indiretas entre Teerã e Washington, que devem acontecer em Mascate, capital omanense. A informação é da rede Al Mayadeen.

Recebido por seu homólogo omanense, Badr al-Busaidi, Araghchi ressaltou a importância da mediação de Omã no processo. “O fato de Mascate sediar essas conversas é uma prova do papel responsável que o país desempenha nas questões e desenvolvimentos regionais”, disse o chanceler iraniano, que lidera uma delegação composta por diplomatas experientes. Al-Busaidi, por sua vez, agradeceu ao Irã por confiar ao governo omanense a missão de sediar um diálogo tão sensível e relevante.

Araghchi foi enfático ao delimitar os termos do engajamento com os EUA. “As negociações são indiretas e, da nossa perspectiva, estão limitadas apenas à questão nuclear”, declarou. O chanceler afirmou ainda que seu país está pronto para avançar, mas tudo depende da postura de Washington: “Se o lado americano tiver as mesmas intenções, haverá uma oportunidade de chegar a um entendimento inicial que abra caminho para um processo de negociação sério.”

O porta-voz da diplomacia iraniana, Esmaeil Baqaei, destacou nas redes sociais a disposição do Irã em proteger seus interesses estratégicos. “Estamos determinados a usar todas as nossas capacidades para proteger a autoridade e os interesses nacionais”, escreveu, acrescentando que o país levou a Mascate alguns dos seus negociadores mais experientes em temas nucleares.

As negociações entre os dois países acontecem em um momento delicado da política internacional. O presidente dos EUA, Donald Trump, declarou na segunda-feira (7) que negociações com o Irã seriam retomadas, surpreendendo a comunidade internacional. Trump, que abandonou o acordo nuclear de 2015 (JCPOA) durante seu primeiro mandato, ameaçou recorrer à força militar caso um novo pacto não seja alcançado. “Se for necessário recurso militar, teremos recurso militar”, disse o presidente norte-americano na quarta-feira.

Segundo o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, que liderará a delegação americana, os EUA pretendem que o Irã desmonte completamente seu programa nuclear. “Onde estiver nossa linha vermelha, não poderá haver militarização de sua capacidade nuclear”, declarou ao Wall Street Journal, admitindo, porém, que outras vias de entendimento estão sendo exploradas.

O Irã, por sua vez, vem se mostrando disposto a negociar, mas com firmeza. O conselheiro do líder supremo Ali Khamenei, Ali Shamkhani, afirmou recentemente que Teerã “busca um acordo real e justo” e que “propostas importantes e implementáveis estão prontas”. Shamkhani indicou que, caso Washington demonstre boa vontade, “o caminho a seguir será tranquilo”.

As conversas, que devem ser mediadas por Omã, marcam o mais alto nível de contato entre as duas nações desde a saída dos EUA do acordo em 2018. Até o momento, o formato exato da negociação segue indefinido: enquanto os EUA classificam o processo como direto, o Irã insiste na intermediação por parte do governo omanense. A agência de notícias iraniana Tasnim confirmou que al-Busaidi atuará como intermediário na rodada inicial de discussões.

As relações entre EUA e Irã, que não mantêm vínculos diplomáticos formais desde 1980, têm oscilado entre retórica belicosa e tentativas de aproximação nos últimos anos. Os EUA alegam que visam impedir que o Irã adquira armas nucleares, enquanto Teerã afirma que seu programa tem fins pacíficos. Em resposta à nova ameaça militar de Trump, o Irã chegou a cogitar a expulsão dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o que foi considerado uma “escalada” por Washington.

A visita de Araghchi a Omã ocorre em meio a um esforço mais amplo do Irã para fortalecer suas relações com países do Sudeste Asiático e o bloco da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), com o qual mantém diálogo estratégico em áreas como energia, comércio e segurança regional. Embora a ASEAN não tenha papel direto nas negociações nucleares, o Irã vê no bloco uma alternativa para diversificar parcerias e romper o isolamento imposto pelas sanções ocidentais.

As relações com países como Malásia, Indonésia e Vietnã vêm se intensificando, sobretudo após a entrada em vigor do Acordo de Parceria Econômica Abrangente Regional (RCEP, na sigla em inglês), tratado de livre comércio que reúne 15 países da região Ásia-Pacífico, incluindo China, Japão, Coreia do Sul, Austrália e os dez membros da ASEAN. O RCEP constitui o maior acordo comercial do mundo em termos de população e PIB agregado, e tem potencial para redefinir os fluxos de comércio e investimentos na região.

Embora o Irã ainda não faça parte do RCEP, a estrutura do acordo representa um modelo atrativo de integração econômica com base no multilateralismo e na cooperação Sul-Sul. Teerã tem buscado aproximação com países signatários, visando abrir canais comerciais alternativos às sanções impostas por Washington e seus aliados europeus.

Com a retomada das negociações nucleares, o Irã espera alcançar um desfecho que permita ampliar suas relações diplomáticas e econômicas, tanto com o Ocidente quanto com os países do Sul Global. Mas o sucesso desse esforço dependerá, sobretudo, da disposição dos EUA em abandonar a lógica da ameaça e da pressão unilaterais. Como resumiu Araghchi: “Esperamos que essas negociações sejam conduzidas com a vontade necessária para chegar a um acordo justo, baseado no princípio da igualdade, e que leve à consecução dos interesses do povo iraniano.”

Por Brasil 247

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