Segundo o ex-trabalhador rural, as manchas começaram a parecer em seu corpo há 20 anos. Como a doença atingiu o rosto, ele sofreu com mutilações faciais graves. Após uma espera de três anos, ele recebeu uma nova prótese.
O Profissão Repórter de ontem, expões os perigos do câncer de pele. Na cidade de Turuçu, no Rio Grande do Sul, a equipe conheceu a história de Breno Jaques, ex-trabalhador rural, que sofre com câncer de pele grave e teve mutilação facial.
“Deve fazer, mais ou menos, uns 20 anos. (…) Começou com uma feridinha, um sinalzinho”, conta Breno, sobre as primeiras marcas que apareceram em seu corpo.
A equipe mostrou os agrotóxicos usados por Breno durante o plantio do fumo, como Clomazona, Fluopicolida, Cloridato de Propamocarbe, Gama-cialotrina, Nicosulfuron e Sectoxidim, para a doutora em saúde pública e pesquisadora da Friocruz, Karen Friedrich.
“O que a gente vê nesse conjunto de produtos que ele utiliza são produtos cancerígenos, outros menos, e outros que têm, na composição, produtos cancerígenos”, explica a especialista.
“Tem um problema na base de registro, de como é feito o registro de um produto no Brasil, e outros países do mundo, em que, para o registro, eles avaliam somente os testes com os princípios ativos, um princípio ativo muito puro, e aí fazem esses testes em animais de laboratório. E o que o ser humano está exposto, não é o princípio ativo mais puro. Na verdade, são outros componentes dentro do frasco. Aí, o produto que chega na prateleira não passa por todos esses estudos”, completa.
O Rio Grande do Sul é onde ocorre a maior incidência de câncer de pele do Brasil. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é que nos próximos três anos, 23 mil pessoas sejam diagnosticadas tenham a doença no estado.
As próteses e a autoestima
Depois de uma espera de três anos, Breno recebeu a nova prótese facial. Ele teve uma mutilação entre a testa e o olho esquerdo.
“Pareço uma pessoa nova”, diz o ex-trabalhador rural.
Um tipo muito pouco falado de câncer de pele é o que atinge a região do rosto. Como em outros casos, neste, a pele é removida e, consequentemente, são ocasionadas mutilações faciais graves.
O Instituto Camaleão produz, de forma gratuita, próteses faciais para tentar trazer não só qualidade estética, mas também psicológica aos pacientes.
Desde 2019 o Instituto Camaleão atendeu de graça 100 pacientes com mutilações graves provocadas pelo câncer de pele.
O médico Heitor Birnfeld, especialista em próteses faciais, realiza o trabalho voluntário no instituto há cinco anos, e acredita que o seu trabalho, alinhado à ONU, não desenvolve só a estética, mas também a saúde mental dos pacientes.
“Para mim é um crescimento grande espiritual, porque eu gosto muito de tratar as pessoas, eu sou um humanista. (…) Faço porque as pessoas precisam. E, se eu detenho o conhecimento, acho que é uma responsabilidade minha desenvolver o conhecimento e aplicar em quem precisa”, diz o especialista em próteses.
Seu Breno comemora o resultado da prótese facial que passou a utilizar: “O que eu vou fazer agora? Vou abraçar o seu Heitor. Muito obrigado, o senhor me tratou muito bem”.