Presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, fala a senadores sobre política monetária e o cenário econômico internacional
O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse a senadores, nesta terça-feira (22/4), que o papel da autoridade monetária é “ser o chato da festa”. Galípolo participa de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, destinada a tratar das perspectivas da política monetária.
Ele explicou que o BC precisa colocar os juros em um patamar que atenda à meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) — formado pelo próprio Banco Central e pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Galípolo fez uma analogia para explicar o papel do BC: “Quando a festa [economia] está ficando muito aquecida e o pessoal está subindo em cima da mesa, tira a bebida da festa [cenário de aumento dos juros]. Mas também quando o pessoal está querendo ir embora [economia desaquecida], você fala: ‘Fica, esta chegando mais bebida, fiquem tranquilos, vai ter música, podem continuar na festa’ [cenário de redução dos juros]. Então você tem esse papel meio chato de ser o cara que está sempre na contramão”.
Entenda
O BC tem por objetivo fundamental assegurar a estabilidade de preços, tomando as políticas necessárias para o cumprimento da meta de inflação estipulada pelo CMN.
Em 2025, a meta inflacionária é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual (ou seja, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5%). Ela será considerada cumprida se oscilar dentro desse intervalo de tolerância.
A inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumula alta de 5,48% nos últimos 12 meses até março. Nesse ritmo e patamar, o país caminha para mais um descumprimento da meta.
Em março, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, para 14,25% ao ano. O Banco Central prevê novas altas nas próximas reuniões.
Galípolo falou do “dinamismo” da economia brasileira, citando o pleno emprego, o aumento da renda dos brasileiros e a produtividade dos vários setores do país como exemplos. “Quando a economia está aquecida, gerando pressões inflacionárias, você deveria freá-la, para que não se perdesse o controle da estabilidade monetária”, explicou.
E completou: “A gente está tateando agora, nesse ajuste, se a gente está em um patamar restritivo o suficiente ou qual é esse patamar restritivo o suficiente ao longo desse ciclo de alta [de juros] que nós ainda estamos fazendo”.
Galípolo ainda tocou na inflação dos alimentos, explicando que 60% dos custos da produção agropecuária estão ligados, direta ou indiretamente, ao câmbio. Segundo o Banco Central, uma depreciação cambial de 10% aumenta a inflação de alimentos em 1,4 ponto percentual.
Na abertura da audiência, o presidente da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), falou do aumento dos juros como ferramenta eficaz para conter inflação, apesar de ser um “remédio amargo para o cidadão comum e para empresas”.
Renan Calheiros também destacou apoio do presidente Lula (PT) e do Ministério da Fazenda a Galípolo. O presidente do BC foi secretário-executivo do ministro Fernando Haddad nos primeiros meses de 2023.
Ao lado de Galípolo, Lula promete “verdadeira autonomia” ao BC
Cenário internacional
A respeito do contexto internacional, Galípolo disse que está ganhando força no BC a avaliação de um cenário de desaceleração em função das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Foi se tendo entendimento de que as tarifas possam desacelerar a economia”, disse ele, citando ainda as incertezas geradas pela gestão trumpista.
“A própria incerteza deve provocar algum tipo de desaceleração. A incerteza da guerra tarifária deverá gerar algum tipo de desaceleração global”, argumentou. “Estamos falando de um cenário de aversão a risco.”
Sobre os impactos diretos dessa disputa tarifária para o Brasil, ele afirmou:
“A ideia não é que fica melhor com a guerra tarifária”, disse ele, mas afirmou que o Brasil pode se destacar na comparação aos pares, ou seja, outros países emergentes em razão da diversificação da sua pauta comercial e pela relevância do mercado doméstico.
As audiências regulares com o presidente do Banco Central estão previstas no Regimento Interno do Senado. De acordo com o texto, ele deve comparecer a reuniões da CAE pelo menos quatro vezes ao ano.
Por Flávia Said – Metrópoles