Em 2023, estudo do FBSP identificou 178 cidades dominadas por facções criminosas. Em 2024, esse número saltou para 260, representando 33,7% da região
O número de cidades da Amazônia Legal com presença de facções criminosas cresceu 46% em um ano, conforme revela o estudo “Cartografias da Violência na Amazônia”, divulgado nesta quarta-feira (11) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com o Instituto Mãe Crioula (IMC). A pesquisa detalha o avanço do crime organizado e seus impactos socioeconômicos e ambientais, destaca o G1.
A Amazônia Legal abrange nove estados brasileiros — Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão — somando 772 municípios. Em 2023, o estudo identificou 178 cidades dominadas por facções criminosas. Em 2024, esse número saltou para 260, representando 33,7% da região. Os pesquisadores ressaltam que esses dados são conservadores e podem ser ainda mais alarmantes. “É possível que a gente tenha presença [de facções] em outros municípios onde ainda não surgiram indícios documentáveis”, afirmou David Marques, coordenador de projetos do FBSP.
Facções e Disputas de Poder
Apesar do aumento territorial, o número de facções criminosas caiu de 22 para 19. Entre as mais influentes estão o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), originários da região Sudeste. Em 176 dos 260 municípios dominados, apenas uma facção exerce o controle: o CV está presente em 130 cidades, enquanto o PCC controla 28. Nos outros 84 municípios, há disputas entre diferentes grupos.
“A redução na taxa de homicídios pode ser explicada pelo domínio consolidado de facções em algumas áreas”, explicou Marques. Segundo ele, territórios com uma facção predominante apresentam menos confrontos armados. Já os municípios com disputas entre grupos criminosos registram níveis mais altos de violência.
Disputa Territorial e Desmatamento
A Amazônia Legal é estratégica para o narcotráfico, devido à proximidade com Colômbia, Bolívia e Peru, os três maiores produtores de cocaína do mundo. O Brasil funciona como um grande mercado consumidor e corredor logístico para o tráfico internacional. A disputa por rotas se sobrepõe a conflitos fundiários e ao desmatamento ilegal.
“Além do tráfico de drogas, há uma sobreposição com crimes ambientais como a exploração de madeira e ouro, que são usados para lavar dinheiro”, explicou Marques. A morte do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira no Vale do Javari exemplifica como esses crimes se interligam.
A pesquisa também identificou nove corredores de desmatamento impulsionados por obras de infraestrutura, como as rodovias Cuiabá-Santarém e Transamazônica. “São projetos de desenvolvimento econômico predatórios que avançam sobre áreas protegidas e terras indígenas”, alertou Aiala Colares Couto, diretor-presidente do IMC.
Violência Interiorizada
As disputas transformaram pequenas cidades em alguns dos locais mais violentos do país. Cumaru do Norte (PA), com cerca de 14 mil habitantes, registrou a maior taxa de homicídios da região: 141,3 mortes por 100 mil habitantes. A cidade nasceu em torno do garimpo e está situada na Terra Indígena Kayapó.
Outros municípios violentos incluem Abel Figueiredo (PA), Mocajuba (PA) e Nova Santa Helena (MT). Apenas uma capital — Macapá (AP) — aparece entre as 50 cidades mais violentas.
Impacto Ambiental e Sustentabilidade
A violência na Amazônia Legal também ameaça esforços de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável. Em 2025, Belém sediará a COP 30, a Conferência do Clima da ONU. Para os pesquisadores, o combate ao crime organizado é essencial para implementar políticas ambientais eficazes.
“Se não repensarmos o modelo econômico atual, baseado na exploração predatória, não alcançaremos a sustentabilidade na região”, destacou Aiala Colares Couto.
Por Brasil 247