FACÇÃO CRIMINOSA DO CEARÁ ORDENOU ATAQUES A PROVEDORES DE INTERNET A PARTIR DA ROCINHA, REVELA INVESTIGAÇÃO CONJUNTA

Operação das forças de segurança do Rio de Janeiro e Ceará aponta que chefes do Comando Vermelho usavam a favela carioca como base estratégica para extorsão e coordenação de crimes violentos no Nordeste.

Uma operação de grande porte deflagrada no último sábado (31), na favela da Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro, revelou que os ataques coordenados a provedores de internet no estado do Ceará foram orquestrados por integrantes do Comando Vermelho escondidos na comunidade carioca. A ação conjunta envolveu forças da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) e do Ceará (MPCE), e expôs a crescente integração interestadual de facções criminosas brasileiras.

De acordo com o MPCE, as investigações mostram que criminosos ligados ao Comando Vermelho exigiam o pagamento de propina de empresas provedoras de internet em diversas regiões periféricas de Fortaleza, na Região Metropolitana e até em municípios do interior do Ceará. As empresas que se recusavam a pagar a chamada “taxa de segurança” eram alvos de ataques violentos, que incluíam a destruição de veículos, equipamentos e ameaças a funcionários.

Criminosos comandavam ações a partir de local de difícil acesso na Rocinha
A operação identificou que os chefes da célula cearense da facção estavam instalados há meses em um prédio localizado em uma área isolada da Rocinha, conhecida como “Dioneia”, cercada por mata e de difícil acesso. Segundo o MPRJ, cerca de 80 criminosos ocupavam a região, que se tornou uma espécie de base logística da quadrilha, onde também eram abrigados foragidos da Justiça cearense.

Embora os agentes buscassem cumprir 29 mandados de prisão e 14 de busca e apreensão, nenhuma das principais lideranças foi capturada. Assim que os policiais iniciaram a incursão, os suspeitos fugiram para a mata, dificultando as prisões. Durante a operação, foram apreendidos quatro fuzis, duas pistolas, um revólver, um fuzil de airsoft, além de grande quantidade de munições e drogas ainda sendo contabilizadas. Um homem com mandado de prisão em aberto foi preso.

Comando interestadual e rastro de violência
As investigações revelam um avanço estratégico do Comando Vermelho para além das fronteiras do Rio de Janeiro, com um braço operacional instalado no Ceará e em outros estados do Nordeste. Segundo o Ministério Público, os criminosos cearenses que se instalaram na Rocinha pagavam uma taxa à facção carioca para se manterem protegidos e operarem com respaldo da cúpula da organização.

Entre os crimes coordenados pela facção a partir da Rocinha estão extorsão, homicídios e roubos. O MPRJ estima que, apenas nos últimos dois anos, mais de mil mortes possam ter sido ordenadas pela cúpula do grupo. “É uma rede de comando e controle altamente sofisticada, com ramificações em diversos estados e uma capacidade de articulação que desafia o poder público”, afirmou um dos promotores que participou da investigação.

Símbolos do domínio e provocação
Um detalhe simbólico chamou a atenção das autoridades: o prédio onde a maioria dos criminosos cearenses estava abrigada exibia, na fachada, uma bandeira do estado do Ceará — gesto que os promotores interpretam como demonstração de força territorial e afirmação do domínio da facção naquela área da Rocinha.

Alerta para autoridades e impacto na população
O caso reacende o alerta sobre a cooperação entre facções em diferentes estados, com implicações diretas na segurança pública e nos serviços essenciais. Além do impacto econômico para empresas de internet vítimas de extorsão, os ataques prejudicaram diretamente a população, que ficou sem acesso à conectividade em comunidades vulneráveis.

A ação conjunta dos Ministérios Públicos e das forças policiais dos dois estados foi classificada como um avanço no combate ao crime organizado de dimensão nacional, mas reforça a necessidade de estratégias permanentes e de integração entre os entes federativos para conter o crescimento de facções com alcance cada vez maior.

As investigações continuam, e novas operações estão previstas para tentar capturar os líderes foragidos que continuam a operar, mesmo escondidos.

Por Redação Gazeta Rio

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