Candidato do PL à prefeitura do Rio iniciou série de entrevistas nesta semana. Ele deu ‘nota 7’ ao governador Cláudio Castro no combate à violência e o defendeu de críticas de Paes
Em sabatina realizada pelos jornais O GLOBO, Extra e Valor e a rádio CBN nesta quarta-feira, o candidato do PL à prefeitura do Rio, Alexandre Ramagem, procurou se desvincular dos ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília. Embora tenha negado a possibilidade de “golpe” na ocasião, Ramagem disse que o episódio teve cenas de “extremo vandalismo”. Ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo de Jair Bolsonaro (PL), Ramagem também reforçou na sabatina a associação de sua imagem à do ex-presidente, e disse que aposta em uma visita dele ao Rio, às vésperas do primeiro turno, no início de outubro, para alavancar sua candidatura.
Questionado sobre os ataques de 8 de Janeiro, Ramagem afirmou que a “possibilidade de golpe não existia”. Ele também procurou se afastar do contexto em que os ataques ocorreram, no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A Polícia Federal (PF) investiga se Bolsonaro e aliados tiveram alguma participação para fomentar as invasões às sedes dos três Poderes.
— Voltei para desmontar meu gabinete e em janeiro tirei merecidas férias, agora querem me colocar no 8 de Janeiro? Eu nem era diretor da Abin, não tinha contato com ninguém. As condutas lá foram de extremo vandalismo, a possibilidade de golpe não existia. Crime impossível — afirmou Ramagem.
Logo no início da sabatina, Ramagem reforçou sua aposta na associação de sua imagem à de Bolsonaro, e mencionou também uma visita da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro à cidade para ajudá-lo em sua campanha. Ramagem também afirmou que sua candidatura não é apenas “para marcar posição”, e disse que aposta em chegar ao segundo turno.
— Foi o presidente Bolsonaro que me convidou para concorrer a prefeito do Rio. É um trabalho não apenas para marcar posição. Estamos vendo a possibilidade de chegar no segundo turno. Bolsonaro está muito atento aqui ao Rio. Ele está andando por muitas partes do Brasil, já veio em algumas oportunidades aqui, no lançamento da campanha. O próprio senador Flávio (Bolsonaro) tem vindo muito. E agora ele (Bolsonaro) já comunicou que às vésperas da eleição, do dia 1º ao dia 5 de outubro, estará aqui no Rio conosco. Dona Michelle (Bolsonaro) está vindo agora na sexta-feira para estar do nosso lado. Vai conversar com o público majoritariamente feminino em apoio à nossa campanha — afirmou o candidato do PL.
Nas eleições de 2022, Bolsonaro teve 52% dos votos na capital fluminense e Ramagem foi questionado sobre o motivo de não estar angariando a maioria dos eleitores bolsonaristas até aqui. Em sua resposta, o candidato mencionou a busca pelo voto do eleitorado evangélico — 55% deste segmento declara intenção de votar no atual prefeito Eduardo Paes (PSD), segundo a última pesquisa Datafolha. Ramagem criticou alianças de Paes com partidos de esquerda, que classificou como “contrários à fé cristã”.
— Ele (Paes) ainda angaria o voto evangélico, mesmo estando ao lado de partidos que são contra a fé cristã. Mostrando quem defende os valores familiares, (esse eleitor) virá para o nosso lado.
“Nota 7” para Castro na segurança
O candidato do PL também defendeu o governador do Rio, Cláudio Castro, seu correligionário, que vem sendo criticado por outros adversários, mas admitiu que o estado ainda “precisa melhorar muito” na área de segurança. Ramagem, por outro lado, criticou a atuação do prefeito Eduardo Paes (PSD) nesta área, e disse que seu concorrente “nunca atacou a (questão da) ordem pública definitivamente”.
Ramagem, que é delegado de carreira da Polícia Federal, elegeu a bandeira da segurança e da ordem pública como uma das principais pautas de sua campanha. Na sabatina, ele foi questionado sobre problemas enfrentados pelo estado do Rio nesta área, que foram admitidos pelo próprio governador na semana passada. Criticado por Paes pela sua atuação na segurança, Castro é um dos apoiadores da candidatura de Ramagem.
Ramagem deu “nota 7” para a atuação de Castro na segurança. Ele disse que o governador “passa de ano”, mas admitiu que “ainda precisa melhorar muito para ter nove ou dez”. O candidato do PL, por outro lado, criticou os ataques de Paes em relação ao governador.
— Ele (Paes) já está pensando na eleição de 2026. O prefeito entra nesse embate, mas nunca olhou concretamente para a questão da segurança e da ordem pública. Grandes cidades do mundo reverteram a questão da segurança pela prefeitura, cito como exemplos Nova York e Medellín. Quando o governador Cláudio Castro comentou sobre o problema de segurança, estava em um momento de troca do chefe da Polícia Civil. Houve uma queda nos homicídios no Rio de Janeiro, queda no roubo de cargas e há mais investimento. Mas ainda há muito a se fazer. A gente sabe que está havendo aumento em furtos de celulares — avaliou Ramagem.
O candidato do PL voltou a criticar Paes, em outro momento da sabatina, citando um possível interesse do prefeito em renunciar ao cargo em 2026, caso reeleito, para disputar o governo estadual. Ramagem também acusou Paes de usar a administração municipal como “cabide de empregos”, com objetivos eleitorais.
— Eduardo está querendo um quarto mandato para ser trampolim para (virar) governador. Ele se endivida, tem os recursos e não coloca para a população. Endividou o Rio até 2047. Gasta ainda com juros de empréstimo— criticou.
Passagem pela Abin
Perguntado na sabatina se implementará um conceito de inteligência no Rio similar ao da Abin, caso eleito à prefeitura, Ramagem afirmou que as atribuições da agência são diferentes do que é necessário no município. No período em que Ramagem esteve à frente da Abin, no governo Bolsonaro, a agência foi acusada de espionar adversários do ex-presidente, motivo pelo qual se tornou alvo de outro inquérito da PF.
— A nossa intenção com inteligência é trazer o conceito de cidade inteligente. A Abin é o centro da inteligência nacional, então tem diversas funções públicas. Para o Rio, seria necessária uma tecnologia para a cidadania e o desenvolver.
Na sabatina, Ramagem também acusou o atual prefeito Eduardo Paes de ter um “órgão de inteligência clandestino” na cidade. O candidato do PL não forneceu provas, nem maiores explicações para sua afirmação, e disse que seria necessário “verificar isso”.
Vacinação
Questionado sobre campanhas de vacinação no município, Ramagem afirmou que é preciso “melhorar a comunicação” para combater surtos de determinadas doenças, como a coqueluche. Segundo o candidato do PL, o aumento de casos de coqueluche se deve à falta de organização da prefeitura, e não de “negacionismo” em relação à eficácia da vacinação.
Ramagem afirmou ainda que houve “politização do vírus” durante a pandemia da Covid-19, e defendeu a não obrigatoriedade desta vacina para crianças de seis meses a três anos de idade. Ele questionou ainda supostos “efeitos colaterais” do imunizante, fazendo eco a um discurso entoado pelo próprio Bolsonaro quanto estava na Presidência.
— Já me foi muito perguntado sobre vacina de Covid para crianças. Há muitos países vacinando, mas de 5 a 14 anos. O Brasil é o primeiro país que quer tornar obrigatória a vacinação de seis meses a 3 anos. Eu sou contra, porque a vacina contra a Covid tem que ser facultativa. Todos que quiserem utilizar, que a utilizem. Está demonstrado que ela não imuniza e não acaba com o contágio. Há discussões científicas sobre os efeitos colaterais — afirmou Ramagem.
Mobilidade urbana
Questionado também sobre o plano de converter os corredores de ônibus BRT em transporte sobre trilhos, Ramagem criticou o modelo de implementação do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) no centro do Rio, durante a gestão de Paes. O candidato do PL também afirmou que “é mentira” que queira acabar com o BRT.
— Temos que transformar aos poucos, gradual, (o BRT) em veículo sobre trilhos. O VLT quando é colocado na Europa não é só botar o trilho e passar, entra em um plano de modernização da cidade inteira, No Rio, o VLT como foi colocado atrapalhou todo o comércio no Centro da cidade. Há uma fake news de que eu quero acabar com o BRT, isso é mentira. Gastou-se muito com o BRT, isso não há como recuar. Temos que fazer a expansão, que seja por BRT ou veículos sobre trilhos. Por exemplo, o BRT na Zona Oeste ficou um pouco perdido. Ele liga, pelo (corredor) Transbrasil, o Centro até Deodoro. Só a Transoeste, por outro lado, via Barra da Tijuca, que liga Campo Grande e Santa Cruz. Temos que fazer ligação Deodoro, Campo Grande, Santa Cruz — afirmou.
Sabatinas até sexta-feira
A cobertura, no site e na edição impressa do GLOBO, contará com reportagens e análises sobre cada entrevista. Na quinta-feira, no mesmo horário, o entrevistado será o prefeito Eduardo Paes (PSD), e, por último, na sexta-feira, Tarcísio Motta (PSOL). As entrevistas terão aproximadamente uma hora de duração. As sabatinas com os candidatos à prefeitura do Rio têm transmissão ao vivo pela rádio e nos sites e redes sociais dos três veículos.
A ordem das sabatinas foi definida por sorteio. Foram chamados os candidatos mais bem colocados na última pesquisa eleitoral no Rio divulgada pelo instituto Datafolha, na última quinta-feira, e que tenham atingido ao menos 3% de intenções de voto neste levantamento.
Segundo o Datafolha, o atual prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição, registrou 59% na pesquisa. Ramagem, que concorre com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tem 11%. Tarcísio Motta, que reivindica o apoio do PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que faz parte da coligação de Paes —, tem 6%. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Propostas
Ramagem aposta no aumento da exposição durante a campanha para reforçar sua associação a Bolsonaro e aglutinar o voto de segmentos como os evangélicos, que hoje apoiam majoritariamente o atual prefeito. Paes, que busca um inédito quarto mandato na prefeitura carioca, tem visto um recuo de sua taxa de rejeição e uma melhora na avaliação de seu governo que coincide com o início da propaganda eleitoral em rádio e TV. Já Tarcísio procura trazer para sua campanha a imagem de petistas e tem reforçado o fato de ser base do governo Lula, numa tentativa de disputar o voto da esquerda com Paes.
As sabatinas representam uma oportunidade para que os candidatos detalhem propostas para a cidade, e também para que sejam questionados sobre diferentes aspectos de suas atuações políticas. Os entrevistadores dos candidatos do Rio serão os colunistas Lauro Jardim e Merval Pereira, do Globo e da CBN, os âncoras da rádio Bianca Santos e Leandro Resende, e a jornalista Camila Zarur, do Valor.
Na próxima semana, entre os dias 16 e 20 de setembro, será a vez da sabatina com os candidatos à prefeitura de São Paulo. A ordem dos candidatos ainda não foi definida.
Na semana passada, os cinco principais candidatos a prefeito de Belo Horizonte foram entrevistados: Mauro Tramonte (Republicanos), Fuad Noman (PSD), Bruno Engler (PL), Duda Salabert (PDT) e Carlos Viana (Podemos).
Por: Extra