ESTUDO REVELA QUE SUBNOTIFICAÇÃO DE MORTES EM GAZA PODE ULTRAPASSAR 40%

Análise da revista The Lancet aponta mais de 25 mil óbitos não registrados durante a guerra

Um estudo da revista científica The Lancet, publicado pelo O Globo, revelou que o número de mortes na Faixa de Gaza durante os primeiros nove meses da guerra pode ter sido subestimado em mais de 40%. A pesquisa estima que aproximadamente 64,3 mil pessoas morreram entre outubro de 2023 e junho de 2024, um número significativamente superior aos 37,9 mil óbitos registrados pelo Ministério da Saúde palestino.

O estudo foi conduzido por pesquisadores da London School of Hygiene and Tropical Medicine e utilizou modelagem estatística para obter uma estimativa mais precisa das vítimas. A metodologia empregada, chamada de análise de captura-recaptura, já foi utilizada para avaliar mortes em outros conflitos, como nas guerras civis da Colômbia e do Sudão.

Os pesquisadores analisaram três fontes distintas de dados: registros do Ministério da Saúde da Palestina, formulários de denúncias online preenchidos por familiares e membros da comunidade, e obituários publicados em redes sociais. A baixa sobreposição entre as listas sugeriu uma considerável subnotificação de óbitos.

Segundo a análise, cerca de 2,9% da população de Gaza antes da guerra foi morta por lesões traumáticas, o que equivale a 1 em cada 35 habitantes. O levantamento também indica que 59% das vítimas eram mulheres, crianças e idosos com mais de 65 anos. No entanto, o estudo não especificou a proporção de combatentes entre os mortos.

Mike Spagat, especialista em cálculos de baixas de guerra e professor do Royal Holloway College da Universidade de Londres, afirmou que a pesquisa oferece fortes indícios de que o número real de mortos é muito superior aos dados oficiais. “Essa é uma boa evidência de que o número real é maior, provavelmente muito maior, do que os números oficiais do Ministério da Saúde”, disse Spagat.

Francesco Checchi, autor do estudo e professor da London School of Hygiene and Tropical Medicine, destacou a importância de se contabilizar corretamente as vítimas civis. “Há um valor inerente em apenas tentar chegar ao número certo. Isso é crucial para avaliar se a campanha militar é proporcional e se medidas suficientes estão sendo tomadas para proteger civis”, afirmou.

Os autores do estudo apontaram que o número real de vítimas pode ser ainda maior, considerando fatores como desnutrição, doenças transmitidas pela água e o colapso do sistema de saúde. Se o nível de subnotificação identificado for extrapolado até outubro de 2024, o total de mortes em Gaza pode ultrapassar 70 mil.

Por Brasil 247

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