Em discurso em Angola após receber a maior honraria do país, o presidente disse querer “convencer a humanidade a se indignar contra a desigualdade’
Em visita oficial a Angola nesta sexta-feira (25), o presidente Lula (PT) recebeu a maior honraria do país, a Ordem Doutor António Agostinho Neto, e disse que está assumindo o compromisso de “fazer uma campanha mundial contra a desigualdade”: “quem tem uma causa não pode parar de lutar”.
“A desigualdade existe em tantos lugares que muitas vezes nós olhamos só para nós e não vemos que a desigualdade está entre eu e a pessoa que eu estou conversando. Porque nós temos a desigualdade de raça, a desigualdade de gênero, de idade, na qualidade da educação, na qualidade da saúde, no salário. Agora no Brasil nós aprovamos uma lei que a mulher vai ter que receber o mesmo salário do homem se ela fizer a mesma função. Agora é lei e nós achamos que foi um avanço extraordinário. E sabe o que pretendo fazer nessa campanha na luta contra a desigualdade? Essa luta só pode dar certo se a gente criar indignação nas pessoas que comem, delas ficarem indignadas com as pessoas que não comem. Só faz sentido fazer essa luta se a pessoa que estuda conseguir se indignar porque tem uma que não pode estudar. Se a pessoa tomar café de manhã ela tem que se indignar porque tem uma criança que não toma café de manhã. Se nós não conseguirmos criar uma consciência de que esse mundo tem conhecimento científico, tecnológico, genético, esse mundo produz alimento para sustentar quantos bilhões de seres humanos nascerem, mas não tem sentido a quantidade de milhões de crianças que vão dormir toda noite sem ter um copo de leite para tomar. E não é porque não tem leite, porque não tem comida, é porque não tem dinheiro, porque a concentração de riqueza tem aumentado a cada dia que passa. Por mais que a gente lute, a concentração de riqueza vem aumentando. Cada vez mais o 1% tem mais riqueza e cada vez mais os 50% mais pobres estão mais pobres”, disse Lula.
“Espero que eu possa conseguir o intento de convencer a humanidade a se indignar contra a desigualdade, porque não é possível. O Brasil é o terceiro maior produtor de alimento do mundo. O Brasil é o maior produtor de proteína animal do mundo. Entretanto, milhões não podem comer um pedaço de carne. 33 milhões de pessoas ainda passam fome no meu país, quanto nós tínhamos acabado com a fome em 2012. Eu já conversei com o Papa Francisco, eu já fui ao Conselho Mundial das Igrejas, e essa é uma luta que eu acho que a gente só vai ganhar se a gente colocar ela como prioridade na nossa vida, em cada discurso, em cada ação nossa. Todos nós sonhamos com a participação da mulher na política, mas pela desigualdade de tratamento que a mulher recebe na sociedade, pela quantidade de desigualdade que existe no comportamento do homem com relação à mulher, a mulher ainda não conseguiu se expressar, como a maioria que é, na política. Às vezes a gente fica contente porque tem uma mulher presidenta de um partido, porque tem uma mulher presidenta da Câmara, porque tem uma mulher presidenta não sei do quê, mas elas são a maioria. Se elas que nos colocaram no mundo, acho que é justo a gente de uma vez por todas compreender que elas podem sim ser a maioria e governar o mundo em vez de nós. Quem sabe no dia que a gente conseguir isso a gente acaba com a desigualdade mais grave, que é a mulher ser tratada como objeto de cama e mesa ainda em pleno século XXI. É preciso que os homens amadureçam, que a sociedade amadureça”, finalizou.
Por 247