“O Empoderadas me ajudou a sorrir novamente”. É assim que a cuidadora de idosos, Gleice Quelli, de 50 anos, descreve a experiência de ser aluna do programa estadual que tem ajudado mulheres a saírem de ciclos de violência. Sob coordenação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, a iniciativa foi expandida na Baixada Fluminense, região que registra altos índices de crimes contra a mulher. Das 58 unidades existentes em todo o estado, 12 polos e 2 Centros de Referência estão disponíveis na localidade e já impactaram mais de 50 mil mulheres, desde o início da atual gestão, com a oferta de aulas técnicas de autodefesa, cursos profissionalizantes, atendimento com equipes multidisciplinares, entre outras diversas ações.
– O enfrentamento à violência contra a mulher é uma questão fundamental, pois o respeito e a dignidade delas é essencial para uma sociedade mais justa e igualitária. O grande número de crimes contra as mulheres é um problema que diz respeito a todos, e o nosso compromisso é fortalecer iniciativas que impulsionam as mulheres principalmente em relação à liberdade, autonomia e segurança – destacou o governador Cláudio Castro.
O projeto é uma das iniciativas do Programa Estadual de Enfrentamento ao Feminicídio no Estado do Rio de Janeiro, cumprindo também os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente o ODS 5, que estabelece a igualdade de gênero.
– Não tratamos a violência com violência. Trabalhamos com 70% de teoria e 30% de prática. Temos aulas de prevenção no tatame, e também uma equipe multidisciplinar com advogados, psicólogos e assistentes sociais. Também promovemos cursos profissionalizantes, com objetivo de incentivar a independência financeira das mulheres. Todos os dias chegam alunas novas aqui, é muito libertador ver as mulheres se abrindo, voltando a acreditarem em si mesmas, ressignificando suas vidas – explicou a coordenadora do programa, Monique Bispo.
Acolhimento e transformação
Moradora da Baixada Fluminense, a cuidadora de idosos Gleice Quelli foi vítima de violência e passou a frequentar o polo localizado na quadra da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis desde dezembro de 2024. Quando chegou no projeto estava em um processo de depressão e, ao começar a participar das ações, se sentiu acolhida e confiante. Segundo ela, foi um resgate da sua autoestima.
– Cheguei aqui no meu limite, me sentia incapaz de viver a minha vida, e é maravilhoso poder chegar num lugar e ser abraçada pelas pessoas. Quando chego aqui, vejo mãos estendidas para me ajudar, é uma coisa verdadeira. Hoje, meus amigos falam que é muito bom ver meu sorriso de novo. O programa Empoderadas me ajudou a sorrir de novo – contou.
Também acolhida pela ação, a cuidadora de idosos Neuza Santos, de 63 anos, relatou que foi vítima de uma tentativa de feminicídio, chegando a entrar em depressão. De acordo com ela, o contato com outras mulheres que vivenciaram momentos difíceis ajuda no processo de superação.
– Cada uma tem sua história. Eu fico muito sozinha em casa, e aqui eu posso contar a minha história para outras mulheres que me entendem. Muitas sofrem, e ficam impossibilitadas de tomar uma atitude. Se eu não tivesse tomado uma atitude, eu não estaria aqui. Esse projeto é maravilhoso para mim, já sofri muito, passei por muitas coisas ruins e hoje me sinto muito melhor – disse.
Atuação estratégica na Baixada Fluminense
Na Baixada Fluminense, os municípios de Nova Iguaçu e Duque de Caxias têm quatro unidades cada. Já Nilópolis, tem três. Mesquita, São João de Meriti e Queimados possuem um polo.
– Os municípios com o maior número de ligações relacionadas à violência contra a mulher são na Baixada Fluminense. Sou nascida e criada nessa região, e é um compromisso nosso transformar a vida das mulheres que sofreram esse tipo de violência, e trabalhar para evitar que outras sejam vítimas desse crime – enfatizou a secretária de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Rosangela Gomes.
Ao longo de 2024, foram 2.327 mulheres inscritas nas aulas de tatame em todas as unidades na região. Já os cursos profissionalizantes somaram 624 alunas. Ao todo, mais de 140 mil mulheres foram alcançadas em 360 ações feitas durante o ano em todos os polos do programa o estado.
– O Governo do Estado reafirma, a cada projeto, a cada iniciativa e política pública para as mulheres, seu compromisso no combate à violência de gênero. Sabemos que os índices de violência contra a mulher ainda são alarmantes, e é por isso que seguimos ampliando nossos esforços, garantindo não só proteção, mas também ferramentas, como o Empoderadas, para que essas mulheres recuperem sua liberdade e independência- declara Heloisa Aguiar, secretária da Mulher.
De acordo com o último levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP), a Polícia Militar registrou 240 ligações por dia para o Central 190, relacionadas à violência contra a mulher em 2023. Ao longo do ano foram 87.626 chamadas sobre as violações de gênero. Houve também um aumento de 44% nas ligações denunciando assédio sexual, e de 118% sobre descumprimento de medida protetiva.
Os municípios de Queimados, Seropédica e Nova Iguaçu apresentam altas taxas de ligações para o Central 190 a cada grupo de 10 mil mulheres habitantes. Cerca de 79,9% dessas chamadas geraram despacho e 11,9% culminaram em registros de ocorrência.
Como participar
Mulheres interessadas em conhecer mais sobre o programa podem acessar o site programaempoderadas.rio.br. Já as que buscam se inscrever nas aulas de prevenção à violência, devem preencher o formulário disponível pelo link: forms.gle/2eBERvwFZdjwhfrx5.