Especialistas apontam que o enxugamento das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro pode ter pouco impacto na segurança pública, com o fechamento de 13 dessas unidades na cidade. No entanto, moradores e lideranças locais demonstram preocupação com o fim dos projetos sociais que aconteciam nessas comunidades.
Maurício Silva, morador do Vidigal, na Zona Sul, expressou seu descontentamento com a mudança. A favela, que perdeu sua UPP própria, será agora atendida pela UPP da Rocinha. Para ele, a decisão não é adequada. “Cada local tem suas características e dinâmicas. O Vidigal é completamente diferente da Rocinha. A população é menor e há uma classe média que mora aqui. A UPP funciona bem, se adaptou e não enfrenta hostilidade. Os turistas se sentem seguros”, afirmou.
O pesquisador Robson Rodrigues, do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Uerj, avalia que o fechamento das UPPs não trará os resultados esperados. Segundo Rodrigues, a medida pode até agravar a situação. “Reformulações são comuns, dependendo do estilo de cada gestor, mas, pela experiência e análises históricas, acho que o efeito será contraditório. Se o objetivo é recuperar o efetivo policial, mesmo com mais policiais, não haverá o resultado esperado, pois os batalhões consomem muitos efetivos”, explica. Para ele, a solução para a segurança pública envolve uma reforma administrativa nas polícias, e não o fechamento das UPPs.
Rodrigues também destaca a importância da polícia de proximidade, implementada nas UPPs, que prioriza o diálogo e o respeito mútuo entre policiais e moradores. “Se a comunidade não foi chamada para conversar, o maior interessado não foi ouvido”, critica.
Vania Rodrigues da Silva, presidente da Associação dos Moradores da Barreira do Vasco, na Zona Norte, compartilha a preocupação com o impacto social da medida. Ela ainda não foi informada oficialmente sobre a mudança e pediu uma reunião para entender as consequências. “Minha maior preocupação é com os projetos sociais para as crianças. Ninguém estava sabendo. A relação com a UPP é ótima: não há confrontos, operações ou medo, temos uma boa convivência”, afirmou. Na Barreira do Vasco, aulas de jiu-jítsu são ministradas em um espaço anexo à UPP e no clube do Vasco da Gama.
Apesar de discordar das políticas de ocupação militarizadas, o coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF, Daniel Hirata, reconhece que as UPPs trouxeram resultados consistentes na redução de vários indicadores criminais até 2013.