EM MEIO AO OUTUBRO ROSA, PACIENTES DO RJ RELATAM DIFICULDADES NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA

Segundo os relatos de pacientes do INCA, procedimentos simples, como exame de mamografia, não estão sendo marcados há meses. Consultas com mastologistas e outros profissionais com oncologistas, viram uma maratona para os pacientes.

Mulheres do estado do Rio estão enfrentando dificuldades para diagnosticar, realizar exames e tratar o câncer de mama. A situação persiste em meio ao Outubro Rosa – mês de conscientização e alerta sobre prevenção e diagnóstico precoce da doença.

O RJ1 ouviu pacientes do Instituto Nacional do Câncer, o Inca III, em Vila Isabel, que é especializado no tratamento ao câncer de mama. Segundo os relatos, procedimentos simples, como exame de mamografia, não estão sendo marcados há meses. Consultas com mastologistas e outros profissionais com oncologistas, viram uma maratona para os pacientes.

Em tese, pacientes estão protegidos pela Lei dos 60 dias, de 2012- que prevê garante o tratamento rápido contra o câncer pelo SUS que obriga as unidades públicas de saúde a cumprir os prazos máximos exigidos, como oferecer o primeiro tratamento em até 60 dias a partir do diagnóstico. Entretanto, segundo os relatos, alguns dos prazos não são respeitados.

Em outubro de 2011, Célia Regina Santiago descobriu câncer de mama no seio direito. Dois meses depois, no dia 11 de dezembro, conseguiu operar, retirando a mama. No mês seguinte, em janeiro, fez mastectomia total. Na época, não quis fazer a cirurgia de reconstrução das mamas.

Ela afirma que o processo, entre consulta e cirurgia, até foi rápido. Mas de 2016 em diante, as dificuldades no Inca III começaram.

A dificuldade atual se arrasta desde janeiro de 2023. Célia conta que está tentando marcar mamografia, mas sempre é informada pela recepcionista que não há vaga, que a agenda não está aberta, que o aparelho está quebrado ou que não há médico para laudar o exame.

Moradora de São Gonçalo, Dona Célia já chegou a ir para o Inca às 23h para tentar marcar o exame no dia seguinte, às 7h, mas novamente sem sucesso. Foi orientada a deixar o telefone para alguém ligar assim que tiver vaga, só que a ligação nunca chegou.

Desesperada, ela fez uma mamografia na rede privada com a ajuda de familiares. E desde agosto, não consegue marcar mastologista para depois ser encaminhada ao oncologista. Professora de dança e cabeleireira, dona Célia parou de trabalhar porque não pode fazer nenhum esforço com o braço direito. ela passou a se dedicar totalmente ao tratamento contra o câncer.

Quem vive situação parecida é a paciente Simone Cabral da Silva de Jesus, economista doméstica. Ela foi ao Inca III no início de junho, para uma consulta com mastologista, que só conseguiu depois de entrar em contato com a ouvidoria e aguardar bastante tempo. A médica pediu mamografia e desde então, ela liga todos os dias e não consegue marcar. O objetivo era realizar o exame e retornar à consulta em no máximo três meses.

Outros Casos

Maria de Lourdes Lira Machado Vieira é moradora de Búzios, na Região dos Lagos. Em abril deste ano, a médica do Inca pediu que ela fizesse mamografia com urgência.

Desde a data, ela e o marido tentam marcar o exame e não conseguem. Os dois até entraram em contato com a ouvidoria da unidade, mas tiveram a resposta de que precisavam retornar ligação para o setor de marcação todos os dias. Mesmo assim, não conseguem marcar. Maria de Lourdes retirou a mama esquerda e tem suspeita de câncer no seio direito. Além disso, ela está há dois na fila para fazer a cirurgia de reconstrução da mama.

Se a dificuldade é grande para marcar exames e consultas, também há luta de quem descobriu a doença e precisa dar início ao tratamento.

Nora Ney de Almeida, é exemplo disso. A moradora de Japeri, na Baixada Fluminense tenta desde julho deste ano começar a dar os primeiros passos na luta contra o câncer. Ela conta que foi ao posto Mucajá, onde mora, para consulta com ginecologista, depois de ter sentido um caroço no seio. Fez ultrassonografia na rede pública e pagou pela mamografia na rede privada com a esperança de que pudesse começar logo o tratamento.

A médica pediu biópsia e o resultado chegou no dia 31 de agosto. Um carcinoma invasivo, de grau II. Ela foi inserida na fila do SER no dia 6 de setembro e agora, mais de um mês depois, não faz ideia de quando vai ser encaminhada para algum hospital. Na frente dela há 77 pessoas aguardando por uma consulta com mastologista (oncologia). Enquanto isso, o câncer não espera e segue avançando.

O que diz o Inca

Por nota o Inca informou que todas as pacientes foram tratadas e estão em acompanhamento. Disse que a paciente Simone será agendada para mamografia ainda neste mês. Sobre a paciente Maria Lourdes, o Inca informou que a cirurgia de reconstrução mamária está prevista para fevereiro de 2024. Já a Secretaria de Estado de Saúde informou que a Nora Ney está agendada para fazer a consulta de mastologia no dia seis de novembro, no hospital Mário Kroeff.

Por Cássio Bruno, RJ1

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