Trabalhadores da educação foram às ruas contra projeto que terceiriza gestão de escolas públicas – Lucas Botelho
“Participei da greve e fui afastada do cargo ontem à noite”, afirmou à reportagem do Brasil de Fato Paraná uma diretora de escola, que preferiu não se identificar.
O afastamento aconteceu um dia depois de outro caso semelhante que repercutiu nacionalmente. A diretora Carmen Souza Pinto, que coordenava o Instituto de Educação Prof. César Prieto Martinez, em Ponta Grossa (PR), fez um vídeo narrando que havia sido afastada pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná (Seed).
O caso ocorreu na semana passada, logo após o final da greve de trabalhadores da educação contra o projeto Parceiros da Escola, que prevê terceirização da gestão de escolas públicas no Paraná,
A decisão chegou por meio do secretário de Educação, Roni Miranda Vieira, e da Chefe do Núcleo Regional de Educação de Ponta Grossa, Luciana A. Sleutjes.
Carmen Souza teve postura declarada contra o programa, que prevê a entrega da gestão de 200 escolas estaduais à iniciativa privada.
Outras duas diretoras, que preferiram não se identificar sofreram o mesmo problema. Para preservar a privacidade das trabalhadoras, a reportagem preferiu não expor o município onde trabalham.
“O argumento é ter participado da greve. Os alunos do colégio, os servidores ficaram bem abalados”, afirma uma das diretoras afastadas.
A professora completa que não se arrepende da tomada de posição. “Estou bem tranquila, sabia do risco de perder esse cargo, volto para as minhas turmas. Estou muito tranquila no meu posicionamento, faria de novo, não me arrependo”, afirma.
Para ela, é necessário investimento e energia na comunicação e informação sobre o projeto, que agora vai para consulta à comunidade escolar nas escolas apontadas pelo governo. Não temos acesso a documento, apenas à propaganda, e falta informação”, indica.
A Secretaria Estadual de Educação do Paraná (Seed), por sua vez, afirma que o afastamento (e não desligamento) de determinados diretores foi realizado em decorrência de indícios de descumprimento de seus deveres profissionais, conforme estabelecido pelas normas e regulamentos que regem a atuação dos profissionais da educação do Estado.
Marlei Fernandes, da direção da APP-Sindicato e Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) considera a atitude do governo como uma forma autoritária e de desrespeito ao direito de manifestação da categoria.
“Agem com truculência quando afastam diretores eleitos e pessoas que passaram por edital para formação de formadores. Levamos essa situação para primeira reunião no Tribunal de Justiça porque entendemos que assim como nós temos o direito de fazer a reposição das aulas, que é um direito da greve e dos estudantes, manter os diretores nas escolas e formadores, ao retirá-los, são características do governo autoritário. Nossa luta será pela manutenção dos diretores, dos formadores, e o direito da categoria fazer reposição”, critica.
Posição da Seed
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação (Seed), por meio da assessoria de imprensa, afirmou à reportagem que os “processos administrativos pertinentes foram devidamente instaurados por esta secretaria, e estão sendo conduzidos com rigor aos princípios legais e administrativos aplicáveis. Cada caso está sendo analisado individualmente, considerando os fatos específicos apresentados em seus respectivos processos”, aponta.