Pesquisas mostram que 80% dos jovens entre 18 e 34 anos já consumiram cigarros eletrônicos ao menos uma vez
O dia 31 de maio é dedicado à conscientização sobre os riscos que o hábito de fumar traz para a saúde. O Dia Mundial sem Tabaco combate o consumo de cigarros, tabaco e dispositivos eletrônicos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de tabaco no Brasil tem diminuído desde 2010 e reduziu aproximadamente 35% no último ano. Além disso, houve um declínio nas taxas globais desde 2022. Mesmo assim, o tabagismo mata cerca de 443 pessoas no Brasil por dia e, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o cigarro é responsável por 90% das mortes por câncer de pulmão.
“Os prejuízos do tabagismo são doenças do sistema cardiovascular, tem problemas pulmonares como o aumento da probabilidade de agravamento por infecções e agravamento de asma, rinite, mas também a principal questão é a dependência da nicotina, que é justamente a substância responsável por deixar os fumantes expostos às mais de 4.700 substâncias tóxicas por longos anos. Porque, quando a pessoa tem um contato com a nicotina, a dependência se estabelece e fica muito difícil parar o consumo do cigarro”, explica a Mariana Pinho, coordenadora de tabaco da ACT promoção da saúde.
Cigarro eletrônico: moda entre jovens também é nociva à saúde
Mesmo sendo proibida desde 2009, a venda de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), como os cigarros eletrônicos, vapes e pods acontece em todo país. Ambulantes, lojas, sites e até aplicativos vendem produtos ilegais a qualquer pessoa e conquistam, principalmente, os mais jovens.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, 2,3% da população brasileira faz uso dos cigarros eletrônicos. Dos alunos entre 13 a 17 anos, 6,8% já experimentaram o cigarro eletrônico e 80% dos jovens entre 18 e 34 anos já consumiram cigarros eletrônicos ao menos uma vez.
Desde 2018, de acordo com a Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), o consumo aumentou quase 600% e hoje são cerca de 3 milhões de consumidores. Os dados também mostram que mais de 6 milhões de adultos já experimentaram o produto. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2023, 88 países regulamentam os cigarros eletrônicos e, em muitos deles, esses produtos são utilizados para redução de danos do consumo de nicotina.
Alexandro Lucian, presidente do Diretório de Informações para Redução dos Danos do Tabagismo (DIRETA) avalia que os DEFs têm sido eficientes para ajudar quem quer parar de fumar.
“Os vaporizadores devem ser indicados somente para fumantes que não conseguem parar de fumar utilizando os métodos clássicos, como força de vontade, adesivos, gomas de mascar e remédios. Em contrapartida, já se sabe que o vaping é muito mais seguro do que fumar, portanto a troca do cigarro convencional pelo eletrônico traz muitos benefícios”, acrescenta.
Entretanto, devido aos riscos à saúde, em 2009 foi aprovada a Resolução 46 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que proíbe a comercialização, importação e propaganda de DEFs, assim como seu uso em locais fechados, privados ou públicos. Importante dizer que o uso não é considerado crime, mas sim a venda, sujeita a pena de reclusão de um a cinco anos, além de multa.
A decisão foi confirmada em abril deste ano e veta a produção, comercialização e divulgação do vape em território nacional. O produto é ilegal no Brasil desde 2009, mas a entidade discutia a possibilidade de revisão da norma.
O diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, desconsiderou o argumento de que outros países já debateram e regulamentaram o uso e comercialização de cigarros eletrônicos. Segundo ele, a liberação não resolveu os problemas de vício em nicotina e o uso do dispositivo por pessoas mais jovens é preocupante. “Não há absolutamente, no cenário internacional, nenhum país em que essa discussão seja pacífica, tranquila e sedimentada. Não há. As autoridades, em especial as de saúde, estão tendo que lidar com desafios de coibir danos dia após dia”, observa.
#SemNicotina — Tabagismo entre jovens
Nas redes sociais, principalmente no TikTok, cresce a hashtag #semnicotina. A marcação ficou famosa por meio da publicação de vídeos com relatos em uma espécie de “diário” de jovens lutando contra o uso de cigarros — principalmente os eletrônicos. E há uma constante em quase todos os vídeos: a grande maioria dessas pessoas não tinha hábito de fumar cigarros “tradicionais” e não cresceram em casas com outros fumantes. Em geral, elas se consideram saudáveis.
Estudos comprovam que a dependência dos vapes, pods e cigarros eletrônicos é tão intensa quanto a dos cigarros convencionais. Isso ocorre porque esses dispositivos também possuem quantidades significativas de nicotina, que, além de causar dependência, acentuam os sintomas de estresse e ansiedade, motivando ainda mais o consumo.
O processo de parar de fumar
A melhor opção, tanto para quem fuma cigarros eletrônicos quanto os convencionais, é sempre buscar ajuda para abandonar o fumo. “Sempre é uma boa hora para parar de fumar. As substâncias tóxicas ao longo dos anos se acumulam e aumentam cada vez mais a chance de desenvolver alguma doença associada, mas ao interromper o uso ela já começa a sentir benefícios”, comenta a especialista Mariana Pinho.
Segundo o Ministério da Saúde, o enfrentamento ao tabagismo esbarra no fato de que o cigarro é uma droga lícita, com razoável aceitação social, de fácil acesso e custo. Porém, seguir alguns passos pode tornar esse caminho um pouco mais simples.
O ministério aponta 10 passos para quem quer parar de fumar, incluindo ter determinação, marcar um dia para parar e cortar gatilhos do fumo. Escolher um método, se livrar de lembranças do cigarro e encontrar substitutos saudáveis também estão entre as orientações. As recomendações incluem a busca por apoio médico e a troca de experiências em um grupo de apoio.
O tratamento contra o tabagismo é oferecido no SUS com atendimento psicossocial além de oferecimento gratuito de pastilhas e adesivos. Mais informações podem ser obtidas no Disque Saúde 136.
Por Helena Dornelas – CB