DETENTOS TRANSFORMAM PENITENCIÁRIA EM SÍTIO COM PARQUE, HORTA E ATÉ UMA RÁDIO NO ES

Espaço que antes era utilizado para guardar entulho virou parque e hortas. Tudo é cuidado por internos de presídio em Linhares, no Norte do Espírito Santo.

Por Tiago Félix, TV Gazeta

Internos transformam penitenciária do ES em sítio, onde trabalham e estudam

Uma penitenciária com galinhas, patos e até um chafariz. O local onde detentos de Linhares, no Norte do Espírito Santo, cumprem pena, deixou de ser um terreno onde era depositado entulho para virar um sítio com direito até a chocadeira de ovos. Além disso, os detentos também comandam uma rádio interna.Batizado de “Sítio Humanizado”, é nesse cantinho que além de cuidar dos animais os 700 detentos do regime semiaberto também aproveitam para estudar e, aos poucos, estarem prontos para a ressocialização quando saírem da prisão.

Aos poucos, os presos foram construindo hortas no espaço que não era bem aproveitado. Durante a pandemia, eles construíram um parque que serve de local de visitação para os familiares.

Detentos de penitenciária de Linhares transformaram espaço inutilizado em horta — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Clébio Antônio de Souza está cumprindo pena pelo crime de homicídio e é o responsável pelas aves e a chocadeira de ovos.

“É um lugar que a gente tira da nossa mente aquela coisa de presídio. Então, enche a gente de felicidade e incentiva a prosseguir e continuar no caminho certo”, disse Clébio.

Além de cuidar das galinhas, Clébio aproveitou para fazer o ensino fundamental e médio na penitenciária. E durante os 15 anos de prisão, aprendeu várias profissões.

O Recanto Humanizado é cuidado pelos detentos e serve até de espaço para visita de familiares — Foto: Reprodução/TV Gazeta

“A gente tá tentando mudar um pouquinho, desmistificar presídio, cadeia, essa expressão” , explicou Vinícius Narciso, diretor-geral da penitenciária.

Além da horta, o presídio também tem uma rádio. Odair era DJ antes de ser preso, mas agora ele descobriu que tem mesmo vocação para locutor. Na rádio, eles recebem até mensagem dos familiares.

“Eu não sabia que tinha esse dom. E agora fazendo aqui o que eu gosto de fazer também ajuda meus companheiros a poder passar o tempo, porque música é vida, e entretenimento é tudo pra gente aqui”, comentou Odair da Silva.

Internos transformaram penitenciária de Linhares em sítio, onde trabalham e estudam — Foto: Jota Júnior/TV Gazeta

Depois do almoço, eles não sabiam o quê fazer com as embalagens das marmitas. Dai veio a ideia de reaproveitar o que ia para o lixo, utilizando o isopor. Inclusive, os almoços são feitos em cima de uma mesa feita com material do que seria uma embalagem de marmita.

Após tudo ter sido triturado, vai direto para massa de cimento, que eles fazem mesa e bonecos de jardim. Por dia, são triturados aproximadamente 1.400 embalagens. Eles trabalham na fábrica de blocos e no sítio na horta.

Internos transformaram penitenciária de Linhares em sítio, onde trabalham e estudam — Foto: Jota Júnior/TV Gazeta

Pablo chegou no presídio baleado. Depois de passar por nove cirurgias, ele descobriu o dom de pintar.

“Hoje, eu sou um pintor. Faço trabalho filantrópico em escola, pinto creches até mesmo hospitais, e sigo minha caminhada aí. Pronto para sair para a rua uma nova pessoa”, relatou o interno Pablo Eduardo Rezende.

Alguns detentos trabalham na fábrica de blocos ou em empresas conveniadas — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Outros detentos trabalham em empresas conveniadas fora da penitenciária. É uma forma de ressocializar os internos.

“Cada um tem a sua história. Uma hora ou outra eles vão voltar para a sociedade. Então, nós precisamos identificar as necessidade para retornar esse cidadão melhor do que ele entrou” disse Marcelo Gouvêa, subsecretário de Estado de Ressocialização.

Thiago Andrade, mestre em Segurança Pública, reforça essa tese: “A gente vê indivíduos que são colocados na cadeia semianalfabetos. Então a ideia é qualificar esses indivíduos e fornecer estudo e oportunidade”, disse.

Internos transformaram penitenciária de Linhares em sítio, onde trabalham e estudam — Foto: Jota Júnior/TV Gazeta

A prova disso é Cosme Júnior. Ele concluiu os estudos e pretende seguir uma nova vida.

“Nós estamos tendo a oportunidade de começar daqui. Já começamos a reconstruir a nossa vida. Então, por isso, é gratificante para nós”, contou Cosme.

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