Criado em 1945, legenda foi uma das principais do país até o golpe de 1964. Voltou com a “abertura”, mas aos poucos se afastou das origens
Criado em 1945, na esteira da redemocratização pós Estado Novo, o PTB, um dos mais importantes partidos brasileiros, chegou ao fim de forma silenciosa e melancólica. No último dia 9, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou por unanimidade a criação do Partido Renovação Democrática (PRD). A nova legenda é resultado da fusão entre o PTB e o Patriota.
A relatora do pedido , ministra Cármen Lúcia, considerou que todas as exigências legais foram cumpridas. “A Procuradoria-Geral Eleitoral também opinou pelo deferimento do pedido de fusão, destacando que as impugnações solicitadas versam sobre questões que não afetam matérias das competências da Justiça Eleitoral”, observou. Estatuto e programa foram aprovados em convenção realizada ainda em 2022. No ano passado, o PTB elegeu apenas um deputado federal e o Patriotas, quatro. Assim, enfraquecidos e sem atingir a necessária cláusula de desempenho, começaram a negociar a fusão.
Criado por Vargas no pós CLT
Bem diferente do início, quando foi criado pelo presidente Getúlio Vargas, apoiado pela crescente massa trabalhadora organizada sob a recém-criada CLT, de 1943. E também para tentar isolar a crescente força comunista. Parte das forças que apoiava o governo ficou no PSD.
Ainda em 1945, os petebistas decidiram apoiar a candidatura do general Eurico Gaspar Dutra, do PSD, para a Presidência da República. Ao mesmo tempo, a legenda obteve a terceira maior bancada do Congresso. Em 1950, elegeu seu próprio candidato: Vargas. Com o suicídio do presidente, em agosto de 1954, o partido foi para a oposição.
Eleições, alianças, golpe
PTB e PSD voltaram a fazer aliança para a eleição de 1955: Juscelino Kubitschek como candidato a presidente e João Goulart, vice. JK assumiu, com instabilidades políticas – incluindo revoltas militares –, e governou até 1960, ano de fundação de Brasília. E o primeiro presidente a tomar posse na nova capital federal foi o fenômeno eleitoral Jânio Quadros (PTN). O vice era novamente João Goulart (PTB) – as eleições eram separadas.
Como se sabe, o governo Jânio durou poucos meses, até a renúncia, em agosto de 1961. Instalou-se nova crise política, porque os militares não aceitavam a posse de Jango, então em viagem pela Ásia. Com o governador Leonel Brizola à frente, o Rio Grande do Sul se sublevou, para defender a legalidade – a posse de Jango. O jeito foi costurar às pressas um acordo para implementar o parlamentarismo.
Retorno dos partidos
Veio a ditadura, em 1964, os partidos foram extintos e só dois passaram a ser tolerados, a governista Arena e o oposicionista MDB. Já no final dos anos 1970, com o processo de “abertura” política, o bipartidarismo acabou e as legendas voltaram. Inclusive o PTB, recriado em 1979. Brizola, de volta do exílio, tentou ficar com a sigla, mas não conseguiu. Ele teve que se contentar com o PDT, porque o PTB foi para Ivete Vargas.
Aos poucos, o velho petebismo se afastou de suas origens. Nos último anos, ficou conhecido por abrir caciques adeptos do bolsonarismo. Casos de Roberto Jefferson e Daniel Silveira, atualmente presos. E do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que também foi para a prisão.
Por Vitor Nuzzi – RBA