Há três décadas, 25 famílias ocuparam uma terra degradada pelo monocultivo e não mediram esforços para recuperar a área e produzir alimentos sem uso de agroquimicos. Assim nascia a Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Copavi), no noroeste do Paraná
Fruto da reforma agrária, a Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Copavi) chega aos 30 anos diferenciada pela produção 100% agroecológica. Localizada no Assentamento Santa Maria, em Paranacity, noroeste do Paraná, produz alimentos sem o uso de insumos químicos. A marca é resultado da luta de 25 famílias, que não desanimaram mesmo diante da grande dificuldade de recuperar um solo desgastado pela monocultura.
Pegar aquela área degradada no momento da ocupação da antiga fazenda e dar vida não foi tarefa fácil, conforme José Damasceno, da direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). “O dia de hoje é histórico na construção da vida, comemorando os 30 anos da Copavi”, disse a liderança. No último sábado, mais de 400 pessoas se reuniram para celebrar.
Entre elas, parlamentares, representantes do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), da Associação de Juristas pela Democracia (AJD), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Ministério Público do Trabalho de Maringá (MPT), vice prefeito e representantes de vereadores de Paranacity.
Fazer agroecológico e a ancestralidade dos camponeses
Para as famílias, o fazer agroecológico assumido por elas resgatou a ancestralidade dos camponeses em produzir alimentos totalmente em harmonia com a natureza. E hoje, organizadas em cooperativa, produzem todo ano 270 toneladas de açúcar mascavo, 185 toneladas de melado, 125 mil litros de leite e 35 toneladas de hortaliças.
Toda produção é certificada e está disponível à população através do comércio local e de políticas públicas de acesso ao alimento por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que em 2022 enviou 3,9 mil toneladas a quase centenas de escolas. E também do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Parte dessa produção é também exportada a países europeus.
Tânia Leite, da direção da Cooperativa, reforçou a agroecologia como construção de um projeto que tem o ser humano em sua centralidade. “A Copavi é lugar onde crianças, jovens, mulheres e homens são construtores de novas formas de viver e sonhar. Sem os sonhos a vida se torna vazia e sem sentido. Com os sonhos dividimos as dores e as alegrias”, disse.
Prática milenar que virou ciência
Ali, o processo de organização pensado pelas famílias é coletivizado e organizado através da divisão do trabalho. No assentamento não se vê a tradicional divisão de lotes, mas sim uma produção organizada em alguns sistemas produtivos nos 230 hectares da área.
Priscila Monnerat, agrofloresteira, dirigente do Coletivo de Gênero e do Setor de Produção do MST, explicou que “a agroecologia é uma prática milenar que começou a ser desenvolvida como ciência a partir da prática dos povos ancestrais. E ela surge como um movimento para resistir ao avanço do modelo capitalista de agricultura e para propor outro jeito de cultivar a terra, sem destruir os bens comuns”, disse.
O sistema produtivo da reforma agrária do Paraná está alicerçado em 23 cooperativas, 64 agroindústrias e cerca de 100 associações. Nos assentamentos e acampamentos são produzidos leite, milho, arroz, feijão, ovos, hortifrúti, mel, cana-de-açúcar e destilação, erva-mate, polpa e suco de frutas, ração animal e panificados.
Por Cida de Oliveira ´RDA