Pais e mães de santo dos terreiros da cidade relatam que a prefeitura não tem dado o apoio necessário para as celebrações da data. Poder municipal afirmou que foram feitas quatro reuniões com a comissão.
A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) notificou a Prefeitura de São Gonçalo, na Região Metropolitana, por intolerância religiosa. Pais e mães de santo dos terreiros da cidade relatam que, pelo segundo ano consecutivo, o poder municipal afirma não ter verbas para a realização da Semana da Umbanda.
A religião completa 115 anos em 2023. Nasceu em São Gonçalo e, por isso, dizem os umbandistas, deveria ser muito celebrada e apoiada pelo município. Existe, inclusive, uma lei municipal de 2020 instituindo a data da Semana da Umbanda, em novembro, como parte do calendário oficial gonçalense.
Mas os pais e mães de santo dos terreiros da cidade relatam que a prefeitura não tem dado o apoio necessário para as celebrações da data.
“Preparamos um lindo evento para ser apresentado no dia 15 de novembro, e que, por falta de verba da nossa prefeitura, talvez todo esse trabalho ricamente preparado não vá ao ar. E é o segundo ano que isso acontece”, disse Ana Iemanjá, da comissão organizadora da Semana da Umbanda.
Manifestações religiosas
São Gonçalo é uma cidade conhecida pelas manifestações religiosas: esse ano, a prefeitura gastou R$ 70 mil para a confecção dos tapetes de sal na festa de Corpus Christi.
São Gonçalo é oficiada por Comissão de Intolerância Religiosa da Alerj por descaso com Semana da Umbanda no município — Foto: Reprodução/ TV Globo
Em julho, milhares de pessoas participaram da Marcha para Jesus, que faz parte do calendário oficial e também tem o apoio do poder municipal. No ano passado, a prefeitura contratou serviços gráficos para divulgação do evento por R$ 9 mil, mas ele não aconteceu.
A comissão da Semana da Umbanda não quer que a prefeitura deixe de apoiar os eventos católicos e evangélicos, mas reivindica o mesmo apoio.
“Demonstrar que existe uma equidade entre as culturas da cidade. Porque a cidade de São Gonçalo tem o maior tapete de sal da América Latina, é capaz de produzir o evento Marcha para Jesus, um dos maiores do Estado do Rio de Janeiro. A nossa grande batalha hoje é por sobrevivência”, afirmou Fernando D’Oxum, da comissão de organização da Semana da Umbanda.
As lideranças dizem que o problema é antigo. Em 2021, a prefeitura anunciou que desejava criar os museus das religiões na cidade. O projeto previa R$ 1 milhão para o museu católico, R$ 1 milhão para o evangélico e R$ 10 mil para o Museu da Umbanda. Pouco tempo depois, a prefeitura voltou atrás e cancelou os museus.
“São Gonçalo carrega no nome do município a religiosidade. Tem uma religiosidade presente. E o que é comum em todas as filosofias religiosas é o respeito ao outro, principalmente na Umbanda, que passa por este processo de marginalização”, destacou Camila Aguiar, doutoranda da Uerj e especialista em intolerância religiosa.
Na terça-feira (17), A Comissão Umbandista de São Gonçalo acionou o Comitê de Intolerância Religiosa da Alerj.
“Estaremos, por meio da comissão, oficiando a prefeitura para que dê os esclarecimentos necessários frente a este fato que, para nós, é um fato de intolerância religiosa”, afirmou o deputado Josemar Pinheiro de Carvalho (Psol-RJ), presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa da Alerj.
O que diz a prefeitura
A Prefeitura de São Gonçalo informou que não há qualquer previsão para construção de museus e que os valores citados não condizem com a realidade socioeconômica do município. Disse ainda que eventos de qualquer religião recebem apoio, desde que organizados com a devida antecedência para o cumprimento das leis, e que a comissão da Semana da Umbanda foi criada pela Secretaria de Turismo e Cultura.
O poder municipal afirmou ainda que foram feitas quatro reuniões com a comissão, e que ficou acordado que a prefeitura cederia o Teatro Municipal para o evento. Informou ainda que ofereceu somente apoio estrutural e de orientação do trânsito nos eventos religiosos mencionados, não arcando com cachês dos artistas que participaram da celebração de Corpus Christi e da Marcha para Jesus.
Por Danilo Vieira, RJ1