O policial está preso desde fevereiro na Academia Militar, no DF, acusado de omissão frente à invasão das sedes dos Três Poderes
O depoente de hoje na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques terroristas de 8 de janeiro será o ex-diretor de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) coronel Jorge Eduardo Naime. O policial está preso desde fevereiro na Academia Militar, no DF, acusado de omissão frente à invasão das sedes dos Três Poderes.
Segundo as investigações, Naime teria se ausentado no dia do atentado. A operação para conter os manifestantes teve um baixo número de policiais e equipamentos insuficientes. Naime é acusado de ter participado da sabotagem, junto com outros integrantes da PMDF e da Secretaria de Segurança Pública do DF, inclusive o então secretário, Anderson Torres.
O coronel foi o primeiro a ser ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) aberta pela Câmara Legislativa do DF (CLDF) para tratar dos ataques, no dia 16 de março. Em seu depoimento, o policial apontou que o Exército atuou para proteger os terroristas, impedindo que a PM prendesse os acampados em frente ao Quartel-General (QG). A oitiva colocou os militares na mira do colegiado, levando, inclusive, à convocação do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno.
De acordo com Naime, os policiais encontraram uma “linha de choque montada com blindados. E, por mais interessante que parecesse, eles não estavam voltados para o acampamento. Eles estavam voltados para a PM, protegendo o acampamento”.
O coronel disse ainda ter visto o então interventor federal na Segurança Pública do DF, Ricardo Cappelli, ser impedido de entrar no local pelo ex-chefe do Comando Militar do Planalto general Gustavo Dutra. Os militares, segundo o relato, argumentaram que o local era pertencente ao Exército e que a polícia não poderia entrar.
Naime declarou ainda que organizou pelo menos quatro tentativas para desmontar o acampamento golpista antes dos ataques, todas frustradas pelo Exército. Sobre a invasão da Esplanada, o coronel argumentou que estava de férias na época e, por isso, não presenciou a operação inicial. Ele chegou ao local apenas às 17h40, quando assumiu o comando da tropa de choque.
“Fiz tudo o que estava ao meu alcance quando me chamaram para a Esplanada. Efetuei mais de 400 prisões. Quando o Cappelli chegou, os prédios já estavam desocupados. Fiz tudo isso, e agora estou preso há mais de 30 dias. Essa foi a minha recompensa”, disse em seu depoimento.
Sua defesa ingressou com um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para que ele não seja obrigado a depor. Além de ser questionado sobre os atos de 8 de janeiro, Naime deve falar da atuação da PM na tentativa de invasão à sede da Polícia Federal em 12 de dezembro, data da diplomação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.