CLAUDIA ABREU INICIA SEGUNDA TEMPORADA DO MONÓLOGO ‘VIRGINIA’ NO RIO: ‘FOI UMA LUFADA DE NOVIDADE’

Peça marca a estreia da atriz como escritora teatral em seu primeiro solo: ‘Me jogar sem rede de proteção’

 Uma das maiores atrizes de sua geração, Claudia Abreu inicia a segunda temporada do monólogo “Virginia”, no teatro I Love Prio, no Jockey Club Brasileiro, no Leblon, Zona Sul do Rio. A peça, dirigida por Hamir Haddad com codireção de Malu Valle, marca a estreia da artista como escritora teatral em seu primeiro solo.

“Eu já tinha co-escrito a série ‘Valentins’ do Gloob, que me deu muito prazer de fazer e eu já tinha sido ‘mordida’ por essa coisa maravilhosa que é escrever, que é você poder criar de uma outra maneira. Porque a gente também cria, é co-criador, quando você interpreta um texto, porque você sempre coloca o seu jeito, as suas ideias”, afirma Claudia.

“Mas você poder interpretar um texto de fato seu é muito mais ampla essa liberdade, porque, na verdade, você sonha com o que você gostaria de fazer, vai atrás dessa ideia: ‘ o que eu quero dizer para o público?’, né? E você realizar isso, ir até o fim, e nessa altura da minha vida, décadas sendo atriz só, e, de repente, abrir essa janela nova de poder ser autora e poder interpretar meus próprios textos, realmente foi uma lufada de novidade, uma liberdade, sobretudo”, ressalta.

O espetáculo, que estreou em 2022 em São Paulo e passou por uma primeira temporada no Rio de Janeiro, além de cidades como Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE), Natal (RN) e Goiânia (GO), conta a vida e a obra da autora inglesa Virgina Woolf (1882-1941), após um longo processo de pesquisa e experimentação que durou mais de cinco anos. A peça já foi vista por mais de 27 mil pessoas e virou o livro “Virginia – um inventário íntimo”, lançado pela Editora Nós.

“Eu acho que tem uma coisa muito interessante na peça, porque em todos os lugares por onde ela (a peça) passou houve uma comunicação muito positiva com o público. Não importa se eles leram ou não Virginia Woolf, entende? Eu acho que tem uma humanidade na história dela. Uma mulher que passou por tantas coisas na vida, de tragédias pessoais e abusos, uma mulher que não teve condições de ir pra escola, se formou uma intelectual de uma forma autodidata, passou por muitas crises de desequilíbrios psiquiátricos. Então, eu acho que a vida dela é tão cheia de coisas, é uma feminista e ela fala tanto da condição da mulher que, quando você vai ver, não mudou tanto em cem anos. A gente se identifica com a história dela”, pontua.

Claudia explica ainda sobre o processo de criação da peça e revela o motivo de ter escolhido a morte de Virginia como primeira cena do espetáculo. “Eu fiquei muito curiosa sobre o que se passa na cabeça de uma pessoa que resolve se matar. A partir daí, eu comecei a fazer um inventário íntimo dela. Então essa foi a ideia inicial, de fazer com que os últimos instantes de consciência dela pudessem repassar quem é ela, quem foi a Virginia, como ela se formou uma intelectual sendo uma mulher que não tinha permissão de frequentar a escola simplesmente por ser mulher. Como que ela conseguiu escrever uma obra brilhante em meio a tantas crises de loucura”, diz.

Primeiro monólogo da carreira

Claudia revela que a peça, a princípio, não foi pensada para ser um monólogo porque ela tinha resistência em fazer seu primeiro solo. “Eu achava que eu ia achar chato estar sozinha. E eu gosto de turma, gosto de trocar com outros atores, eu gosto de camarim animado. Nunca tinha querido fazer (um monólogo). Então foi aquele risco total, ainda mais fazendo tudo do meu bolso. Falei: ‘Caramba, estou me arriscando em todos os níveis'”, conta.

A atriz, então, explica o que a motivou mudar de ideia. “Só que tem uma coisa interessante na peça: é que vários outros personagens, vários outros fluxos de consciência que passam pela cabeça dela, como pessoas que tiveram participação em sua vida, também contam a vida dela, junto com ela. E eu poderia ter feito que essas vozes que também contam a vida dela fossem personagens… e de fato são, né? Só que fora dela. Mas aí não seria um inventário íntimo”, inicia.

“Virginia está no momento da morte, num momento mais solitário. Além de tudo, uma pessoa que escolheu tirar a própria vida se afogando num rio… nos seus últimos instantes de consciência. Essas vozes não poderiam estar fora dela. As vozes estão dentro. E ela, na verdade, se matou porque não aguentava mais ouvir vozes. Era seu grande tormento”, continua.

“Então, se tornou necessário que fosse um monólogo. E, de certa forma, foi muito bom que eu tenha me colocado nesse risco total, em todas essas frentes, como eu falei. Porque foi meio um voo sem rede mesmo, sabe? E isso, às vezes, é importante também para você se colocar num outro lugar. Não fazer mais do mesmo, não fazer nada que já seja meio garantido. Então, essa peça meio que foi um pouco isso para mim. Foi me colocar à prova em vários níveis e me jogar sem rede de proteção”, conclui.

Nova fase

Após anos atuando, Claudia não esconde a emoção de estrear como autora teatral e fala sobre essa nova fase de sua vida profissional. “Eu diria que isso me transformou profissionalmente e pessoalmente. Por várias razões. Tem uma razão que é o desafio em si. De ter me colocado esse desafio de virar autora e de fazer o monólogo do meu próprio texto e de produzir isso com recursos próprios. Isso me transformou no sentido da liberdade. Eu falei: É possível você ser livre nesse lugar. Depois de tantos anos de carreira, você se jogar no desconhecido”, afirma.

“E, além de tudo, tem uma questão dessa surpresa maravilhosa de como isso chegou até o público. De como isso, de certa forma, comunicou a história de uma escritora inglesa que grande parte do público nunca leu, mas que se interessou por ela, por essa história que eu resolvi contar de uma pessoa que é como nós. Ela é uma escritora extraordinária, mas falar da vida dela é falar da vida de todos nós”, ressalta.

Currículo de sucesso

Com mais de 30 anos de carreira e grandes sucessos em seu currículo, como as novelas “Cheias de Charme” e “A Favorita”, ambas da TV Globo, Claudia Abreu reflete sobre sua trajetória e aprendizados. “Eu fico muito feliz de ser uma atriz que sempre tem uma boa oportunidade de trabalho, seja na televisão, seja no teatro, no cinema. Isso me dá muita satisfação. Eu tive meu espaço de uma maneira muito positiva, regular, tive ótimos convites. Isso é uma coisa que me dá um conforto”, analisa.

“Eu comecei muito garota, com 16 anos na televisão, antes até no teatro. Você acaba amadurecendo muito antes da hora, entende? No sentido de que você tem uma responsabilidade, depois você é uma figura pública e aí é diferente.  Então, acho que o que eu posso tirar disso tudo é que eu conheci grandes pessoas, grandes parceiros de cena, eu fui muito acarinhada pelo público”, diz.

A atriz, que deixou a TV Globo após 37 anos, revela que embora goste de atuar em séries e streamings, não pretende abandonar as novelas. “Apesar de eu adorar fazer série, e de adorar poder ter agora um mercado amplo de streaming, que é uma coisa que oxigenou o mercado de uma maneira maravilhosa, sempre que tiver um trabalho importante para fazer em novelas, eu vou querer fazer. Porque eu acho que novela é importante, comunica com todo mundo, entendeu? Não é todo mundo que pode pagar o streaming”, começa.

“Então, a gente não pode, em um país como o Brasil, esquecer que grande parte do público, a arte, a diversão, é a novela. Isso é muito importante, é democrático, sabe? Isso é uma gratidão que eu tenho, de ter esse público da TV aberta que merece ser prestigiado, apesar de ter milhares de outras formas de você trabalhar hoje em dia, que são maravilhosas”, completa.

Claudia ainda faz um balanço de sua profissão e como a arte, segundo ela, transforma a vida das pessoas. “Me inspira me comunicar com o público. A gente vive em um país muito grande, né? Um país sofrido, com tantas reviravoltas de política e, agora, dividido. Eu acho que a nossa função como artista é muito importante. A gente tem que trazer sonho, esperança, tem que entreter, dar leveza para a vida”, inicia.

“A pessoa chega cansada, pegou dois ônibus… ou mesmo quem tem mais privilégio, sabe? Tem milhares de outras questões. É uma função muito importante você poder falar da identidade de um país, poder levar cultura, leveza e diversão, fazer com que as pessoas possam sonhar ou possam se transformar. Então, eu acho que tem um lado muito bonito dessa profissão, sabe? Acho que isso me move. É acreditar que a arte transforma”, conclui.

Próximos projetos

A atriz conta que segue com a temporada de “Virginia” no Rio até novembro e, em seguida, fica em cartaz por duas semanas no teatro da UFF, em Niterói. Além disso, Claudia dá spoilers dos próximos projetos no streaming e também sobre a participação em uma série de ficção em podcast.

“Tenho duas séries para estrear no ano que vem. Uma é da Amazon Prime, chamada ‘Sutura’, que é uma série médica. E a outra é um podcast de ficção muito interessante também, de uma plataforma que ainda vai entrar no Brasil, uma plataforma de áudio, que é um podcast sobre a transição de gênero dentro de uma família e como isso acontece. E é uma série muito bem escrita, maravilhosa, direção do João Jardim, que ela é toda um podcast, mas é uma série de ficção”, revela.

Serviço:

“Virginia” fica em cartaz até dia 26 de novembro no teatro I Love Prio, no Jockey Club Brasileiro, no Leblon, Zona Sul do Rio, com sessões às sextas e sábados, às 20h, e aos domingo, às 19h. A classificação é 14 anos. Os ingressos custam à partir de R$ 45 (meia) e estão disponíveis no site Sympla.

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