CIGARROS: DA GLAMOURIZAÇÃO À EPIDEMIA SILENCIOSA — DIA MUNDIAL SEM TABACO CHAMA ATENÇÃO PARA NOVOS PERIGOS

Em 31 de maio, o mundo observa o Dia Mundial sem Tabaco, uma data que vai além da reflexão: ela carrega um chamado urgente à ação. Neste ano, o alerta é direcionado especialmente aos cigarros eletrônicos, que, sob a aparência moderna e envoltos em sabores frutados e aromas atraentes, reintroduzem a nicotina a novas gerações, especialmente entre adolescentes e jovens adultos.
A campanha lançada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Nacional de Câncer (Inca) tem como tema: “Cigarros eletrônicos e aditivos: sabores e aromas que promovem e perpetuam a dependência de nicotina”. A mensagem é clara: a batalha contra o tabaco ainda está longe do fim.

Uma história de fumaça e lucros

O uso do tabaco tem raízes milenares, sendo utilizado por povos originários das Américas muito antes da chegada dos colonizadores. No entanto, foi a partir do século XX, com o avanço da industrialização e, sobretudo, com o poder da publicidade, que o cigarro passou a ser associado ao charme, à liberdade e ao sucesso.
Durante décadas, anúncios glorificaram o ato de fumar. Estrelas de cinema, atletas e personalidades eram vistos com cigarros nas mãos em campanhas e filmes, criando um imaginário sedutor — e fatal. A indústria do tabaco soube transformar um produto nocivo em um símbolo cultural.

Números que matam — e lucram

Atualmente, mais de 1,3 bilhão de pessoas fumam no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o número de fumantes caiu de forma significativa nas últimas décadas graças às políticas públicas, mas novos desafios surgem com os cigarros eletrônicos.
Apesar da proibição da venda no país, o uso de dispositivos eletrônicos vem crescendo, especialmente entre os jovens. Estima-se que 16,8% dos estudantes entre 13 e 17 anos já tenham experimentado cigarros eletrônicos, de acordo com pesquisa do IBGE (2022). Muitos são atraídos por sabores artificiais, como menta, chocolate ou frutas, e pela falsa ideia de que esses dispositivos são menos prejudiciais.
Enquanto isso, o setor do tabaco movimenta mais de R$ 25 bilhões ao ano no Brasil, entre produção, exportação e impostos. Paradoxalmente, os gastos públicos com doenças relacionadas ao tabagismo superam R$ 56 bilhões por ano, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer. É um rombo nos cofres públicos e uma tragédia humana com números alarmantes.

Doenças associadas ao vício

O cigarro tradicional está diretamente ligado a mais de 50 doenças, entre elas:
Câncer de pulmão, boca, garganta, pâncreas e bexiga
Doenças cardiovasculares (infarto, AVC)
DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica)
Infertilidade, impotência sexual e complicações na gravidez
No caso dos cigarros eletrônicos, apesar de serem uma novidade mais recente, já há evidências de danos ao sistema respiratório, cardiovascular e neurológico. Além disso, a nicotina presente nos dispositivos eletrônicos causa dependência química intensa, especialmente em cérebros em desenvolvimento, como os de adolescentes.

Faixas etárias em risco

O tabagismo atinge todas as faixas etárias, mas os adolescentes e jovens adultos representam o grupo mais vulnerável na atualidade, especialmente com os apelos visuais e sabores artificiais dos “vapes” (cigarros eletrônicos).
Outro grupo alarmante são os idosos fumantes, que carregam o vício por décadas e acumulam múltiplas comorbidades — o que torna o abandono do tabaco um desafio ainda maior, porém igualmente necessário.

O papel da publicidade na perpetuação do vício

Por décadas, a publicidade foi uma aliada estratégica da indústria do tabaco. Campanhas sofisticadas associavam o cigarro à beleza, à juventude e até ao sucesso profissional. Apesar da proibição da propaganda de cigarro nos meios de comunicação no Brasil desde 2000, a publicidade oculta e indireta ressurge nas redes sociais, onde influenciadores — muitos deles seguidos por adolescentes — exibem e normalizam o uso dos vapes.
Essa nova “propaganda disfarçada” tornou-se uma preocupação global e uma das principais batalhas da OMS e das autoridades sanitárias.

Caminhos para a superação do vício

Parar de fumar é difícil, mas é possível — e urgente. O tratamento do tabagismo está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), com acompanhamento psicológico, grupos de apoio e uso de medicamentos como adesivos de nicotina, gomas ou bupropiona.

Passos recomendados para vencer o vício:
Reconhecimento do problema e vontade de mudança
Busca de ajuda profissional (postos de saúde, clínicas, psicólogos)
Participação em grupos de apoio ao ex-fumante
Prática de atividades físicas e técnicas de relaxamento
Evitar gatilhos sociais e emocionais que levem ao cigarro
Informar-se constantemente sobre os malefícios do tabaco

Reflexão urgente

Como destacou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, “o Dia Mundial sem Tabaco não é uma celebração, é um lembrete do tamanho do desafio que ainda enfrentamos”.
A luta contra o cigarro tradicional e eletrônico precisa unir sociedade, escolas, famílias, mídia e políticas públicas. Precisamos proteger não só os nossos jovens, mas também a memória de milhões que perderam a vida para um vício que nunca deveria ter sido romantizado.
A informação é a nossa melhor arma — e ainda há tempo de salvar vidas.
Por Redação Gazeta Rio/Ricardo Bernardes

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