Por Agência Brasil
A capital do Sudão voltou a ser palco de explosões e de tiros, mesmo após os dois lados em conflito terem concordado com um período 24 horas de trégua, com início na terça-feira (18). O cessar-fogo foi violado em Cartum pouco depois de entrar em vigor.
A comunidade internacional, incluindo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, apelou pelo período de trégua para que as partes retomassem as negociações pacíficas, para encerrar o conflito e garantir ajuda humanitária à população sudanesa.
Desde de que começou, no sábado (15), o conflito entre o Exército do Sudão e o grupo paramilitar Forças de Ação Rápida (RSF, da sigla em inglês) já fez 270 mortos e mais de 2 mil feridos, segundo a Organização Mundial da Saúde, citando o centro de operações de emergência do Ministério da Saúde sudanês.
Vários residentes de Cartum relataram que ouviram tiros e explosões. A área do palácio presidencial e do comando-geral do Exército sudanês foram os principais alvos de ataques.
“Os combates continuam”, afirmou Atiya Abdulla do Sindicato dos Médicos do Sudão. “Estamos ouvindo tiros constantemente”.
Em uma declaração, o grupo paramilitar RSF acusou o Exército de violar a trégua acordada entre ambas as partes.
“A verdade é que, neste momento, é quase impossível prestar qualquer apoio humanitário dentro e nas redondezas de Cartum”, explicou Farid Aiywar, da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha. “Há várias entidades e pessoas presas, pedindo ajuda”.
Ataques a hospitais
A primeira trégua acordada desde o início dos combates estava prevista para terminar às 18h (horário local) de hoje. No entanto, a população de Cartum e das cidades vizinhas de Omdurman e Bahri testemunharam bombardeios nas últimas horas, e relataram a destruição de vários edifícios, incluindo hospitais e outros serviços de saúde.
“Há grande preocupação após os relatos de ataques militares contra unidades de saúde, roubo de ambulâncias com pacientes e paramédicos no interior, assalto de unidades de saúde e ocupação de hospitais por parte das forças militares”, denunciou a OMS, em comunicado.
Os ataques a instalações de saúde “são uma violação flagrante do Direito Internacional e do direito à saúde e têm de ser suspensos imediatamente”.
Para agravar a situação, o principal aeroporto internacional do país e todo o espaço aéreo do Sudão estão fechados, impossibilitando a chegada de mais medicamentos, além de ajuda médica e humanitária.
Os combates começaram no sábado, após semanas de tensão sobre a reforma das forças de segurança, durante as negociações para formar um novo governo de transição.
A luta pelo poder colocou o general Abdel Fattah al-Burhan, comandante das Forças Armadas, contra o general Mohammed Hamdan Dagalo, ‘Hemedti’, chefe das Forças de Apoio Rápido, grupo paramilitar, em uma reviravolta diante da organização conjunta de um golpe militar em outubro de 2021, que derrubou o então governo de transição que sucedeu décadas de Omar Al-Bashir no poder.