Segundo o IBGE, a pesquisa de orientação sexual não foi bem-sucedida, pois respostas de questionário podem não corresponder a realidade: ‘O comportamento sexual, muitas vezes, dentro de casa, não é conhecido’, disse diretor.
O Censo 2022 não tem dados sobre identidade de gênero dos brasileiros. Nesta sexta-feira (27), quando divulgou detalhes de sexo e idade da população, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o recorte sobre orientação sexual terá de ser feito em outro momento.
Cimar Azeredo, diretor de pesquisas do IBGE, explicou que “os testes [de perguntas sobre gênero] feitos ao longo das coletas não foram bem-sucedidos”. A solução será incluir as questões na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (Pnad), a partir de janeiro.
O IBGE tentou abordar a sexualidade neste Censo. “Depois de conversar com alguns órgãos, chegamos a um questionário, fizemos um teste cognitivo e demos um retorno. É um questionário difícil, pois envolve questões pessoais e ideológicas, além da forma como abordar as pessoas”, disse Maria Lucia Vieira, diretora adjunta de pesquisas do IBGE.
“Não tem sido uma tarefa simples, é um processo de evolução. Muita gente não conhece termos como cisgênero. Ainda existe dificuldade de compreensão sobre termos como heterossexual”, prosseguiu Maria Lúcia.
Segundo Cimar, como muitas vezes a pessoa LGBTQIAP+ tem receio de se assumir ou de comunicar a orientação aos parentes, há um risco de um “falso negativo”.
“Por exemplo: o recenseador vai a uma casa de uma família onde, na hora, só está uma idosa. Ele vai questioná-la sobre a identidade de gênero e sexualidade dela e a de todos os moradores. Mas pode haver um filho ou um neto ‘no armário’, e ela não saber”, explicou Cimar.
“Por isso que esses dados podem ser coletados com fidelidade na Pnad e em pesquisas relacionadas à saúde”, emendou o diretor. “É um desafio grande, e estamos imbuídos nessa discussão.”
Cimar disse que há um grupo de trabalho no IBGE sobre sexualidade, e uma das missões é ajustar as próximas pesquisas.
“A gente vai ter um processo de alterar os pesos da Pnad continua. Todas as pesquisas por amostragem que usam os dados do Censo serão alteradas.”
Por Cristina Boeckel, g1 Rio