CASARÃO CINEMATOGRÁFICO É REABERTO NA GLÓRIA PARA SEDIAR PARTE DA PROGRAMAÇÃO DO FESTIVAL DO RIO

Construção do século XIX, integra conjunto tombado pelo Iphan e estava fechada há cerca de sete anos

Graças ao cinema, um casarão histórico da cidade volta fazer parte do circuito cultural e arquitetônico carioca. Para transformá-lo em sua sede, o Festival do Rio, que chegou este ano à 23ª edição, reformou a casa Villa Venturosa, um imóvel do século XIX localizado na Glória, na Zona Sul, que estava fechado há cerca de sete anos. Antes, o endereço abrigou a ONG Viva Rio. Ao longo de 40 dias de restauração, a arquitetura de inspiração colonial recebeu retoques em toda a estrutura.

Na busca por um espaço para sediar o evento e as palestras do Rio Market — a parte da programação voltada especificamente para negócios —, Walkiria Barbosa, diretora-geral do Festival do Rio, encantou-se com o que define como a magia do lugar:

— Eu fiquei maravilhada, vi mágica ali. Os vitrais são incríveis, mas a casa estava muito acabada. Nos seis andares foi feita uma obra gigantesca de elétrica, hidráulica, restauração de paredes, com mais de 50 pessoas envolvidas. Foi a maior operação que já fiz em 30 anos de carreira. Tinha dias que eu chorava achando que não ia dar certo, mas deu. Ficou lindo — diz ela.

Um dos desafios enfrentados dá bem a ideia do trabalho envolvido: raízes de árvores que tinham crescido por ali naturalmente infiltraram-se do piso ao teto do imóvel, o que foi motivo de preocupação e de cuidado redobrado das equipes de eletricidade com os lustres históricos.

Para a decoração e a montagem do espaço, foram requisitados ainda profissionais do cinema e de produção de cenário, que fizeram acabamentos de pintura, escolheram mobiliário, iluminação e todos os detalhes que deixaram o ambiente pronto e com a cara do festival, que começou na última quinta-feira.

A casa, de estilo arquitetônico colonial, parece um castelo fragmentado, com anexos em diferentes níveis e andares. Ao longo do festival, um dos vários terraços vai abrigar um bar, com vista para a Glória, para os visitantes tomarem um drinque entre uma palestra e outra. Walkiria conta que vários moradores do bairro que nunca entraram na casa já deram uma passada para conferir o novo pedaço.

— A gente está devolvendo à cidade um espaço que é da população. Só a visita para conhecer os vitrais já é incrível. Apesar de serem peças feitas a mais de cem anos, as cores azul-turquesa e laranja são super modernas para obras de arte da época, os artistas não exploravam essas cores. É muito lindo — empolga-se a diretora do Festival.

Patrimônio tombado

A casa Villa Venturosa fica nos arredores do Outeiro da Glória, região tombada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Segundo Paulo Vidal, superintendente do órgão no Rio, como não houve alteração da volumetria do imóvel e as intervenções foram internas, não foi preciso acompanhamento do Iphan.

— Quando há um tombamento de conjunto, importa mais a presença daquele imóvel na paisagem da cidade do que detalhes internos da construção. Agora vamos acompanhar a qualificação desse espaço, para que seja vivenciado pela população. O Outeiro tem de ser um lugar vivo. Encontrar uma vocação para esses casarões é muito importante — avalia Vidal.

Além das rodadas de negócios do Rio Market, o endereço terá exibição, hoje, de filmes chineses, e, amanhã, russos. Vale a visita.

Por Camila Araujo – Globo

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