Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou ao “Em Ponto”, que se sente “feliz” com a reação de frigoríficos brasileiros em suspender o fornecimento de carne ao grupo Carrefour no Brasil.
O embate entre o Grupo Carrefour e os frigoríficos brasileiros começou em 20 de novembro, quando o CEO global da empresa, Alexandre Bompard, anunciou que a gigante francesa deixaria de comercializar carnes provenientes do Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Em um comunicado, Bompard afirmou que a empresa estava disposta a não negociar mais carne do Mercosul, independentemente do preço ou quantidade oferecida.
A decisão foi uma resposta a manifestações de agricultores franceses, lideradas por Arnaud Rousseau, presidente da FNSEA (Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores), contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Esses agricultores temiam que a entrada de produtos agrícolas sul-americanos mais baratos prejudicasse a competitividade dos produtos locais na França.
Entretanto, o anúncio de Bompard gerou um impacto negativo entre os frigoríficos brasileiros. No dia seguinte, JBS, Marfrig e Masterboi interromperam o fornecimento de carne ao Carrefour, incluindo suas lojas no Brasil, Atacadão e Sam’s Club. A decisão levou a uma reação rápida, com caminhões de carne voltando para trás, como revelou a Revista Globo Rural. O Carrefour, por sua vez, lamentou a interrupção, destacando que a suspensão afetaria os clientes que dependem da rede para comprar produtos de qualidade.
A situação, que gerou grande repercussão, levou a esclarecimentos do Carrefour. O escritório da empresa na França informou que a decisão se aplicava apenas às lojas francesas, e que nas demais localidades, incluindo o Brasil, continuariam a comercializar carne do Mercosul. Embora a medida tenha gerado um pequeno impacto nas exportações do bloco, a maior parte da carne comprada nas lojas francesas já é produzida localmente.
A carta de Bompard foi direcionada a Rousseau, e publicada nas redes sociais do CEO, em meio aos protestos contra o acordo entre a União Europeia e o Mercosul. As manifestações começaram no dia 18 de novembro, durante o encontro do G20 no Rio de Janeiro, e refletiam o receio dos agricultores franceses de que o acordo, que busca zerar tarifas de importação e exportação, possa prejudicar a agricultura europeia.
O acordo, assinado em 2019, ainda precisa ser ratificado pelos parlamentos dos 31 países envolvidos. Em relação ao agronegócio, ele promete isentar de tarifas 82% das importações agrícolas do Mercosul e abrir mercado para carnes, açúcar, etanol e outros produtos brasileiros. No entanto, a pressão dos agricultores europeus tem levado a revisões nas negociações, principalmente no que se refere às questões ambientais e sanitárias.
Embora o Carrefour tenha sido alvo da reação dos frigoríficos, a França, importante para as exportações brasileiras, representa uma parcela pequena das vendas de carne bovina do país. Segundo dados da Associação Brasileira de Indústrias, a França representou apenas 0,66% das exportações de carne bovina brasileira para a União Europeia. Por outro lado, países como China, Estados Unidos e Hong Kong são os maiores destinos da carne brasileira.