Siro Darlan
A Chacina da Candelária marcou o assassinato de 8 jovens em situação de rua, no dia 23 de julho de 1993, na proximidades da Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro. O Estatuto da Criança e do Adolescente estava em vigor há apenas 3 anos, e a reação de parte conservadora da sociedade, e sobretudo do setor empresarial era grande. Eu era Juiz da Infância no mesmo período e a tentativa de dar efetividade à lei foi uma tarefa que teve graves consequências para quem tentava viabilizar os direitos fundamentais dos vulneráveis. Data dessa época a perseguição de parte da mídia e de dentro do próprio judiciário, mas sobretudo do Ministério Público que persiste até os dias de hoje.
Anualmente a rede social de proteção à infância promove atos para lembrar essa covardia do assassinato de jovens em situação de abandono e miserabilidade. O mais jovem tinha apenas 11 anos e o mais velho 19 anos. A lembrança é necessária para que não nos esqueçamos do que somos capazes de fazer para defender nosso egoísmo e interesses financeiros. Lembrar para não esquecer!
Foram indiciados seis policiais, tendo sido condenados a penas que ultrapassam a 3 centenas de anos de prisão. Outros massacres ocorreram, e muitas crianças e adolescentes foram sacrificados porque uma parte da sociedade conservadora não admite que esses jovens tenham seus direitos respeitados. Esse ano haverá cerimônias nos dias 21 a 24 de julho no Centro do Rio de Janeiro. Essa lição de violência máxima deve servir para a promoção do nascimento de outra sociedade mais inclusiva
Siro Darlan é desembargador do TJRJ, diretor do jornal Tribuna da imprensa Livre e especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário