O plano do secretário executivo de Desenvolvimento Social de São Paulo, Filipe Sabará, de enviar moradores em situação de rua para trabalharem em áreas rurais do Estado não parece ter recebido apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
No entanto, a medida tem sido duramente criticada. Para a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), o plano “é elitista, higienista, racista e classista”. “É uma medida asquerosa, lembra algo análogo ao colonialismo, aos períodos escravocratas, aos períodos de engenho, ou qualquer uma dessas fases tenebrosas da nossa história”.
“[Remete ao tempo] onde pessoas vulneráveis, negras, analfabetas, pobres, nordestinas, eram tiradas de seus territórios para irem trabalhar de forma braçal, porque a única oportunidade que essas pessoas tinham”, explica.
Sabará, que foi secretário de Assistência e Desenvolvimento Social na Prefeitura de São Paulo durante a gestão de João Doria (PSDB), foi duramente criticado por medidas similares na gestão tucana. Entre elas, a adoção da “farinata”, ou “ração humana”, produto feito a partir de sobras de outros alimentos, que seria servida como merenda escolar nas escolas da capital.
“É uma declaração que não é apenas desastrosa, cruel, covarde, ela é criminosa, porque é como se você fosse pegar essas pessoas, compulsoriamente, e tirar elas dos seus territórios. Essas pessoas têm história, essas pessoas têm amigos, essas pessoas têm bichos de estimação, convívio no lugar onde elas estão, não são almas vagantes, aleatórias”, completa a deputada.
Hilton é a convidada desta semana no BDF Entrevista e faz duras críticas às gestões de Freitas no Estado de São Paulo, que chegou aos 100 dias recentemente, e do prefeito Ricardo Nunes (MDB), prefeito da capital paulista. Hilton avalia que o Estado vive “uma crise humanitária”.
“Eu avalio como desastroso [os primeiros 100 dias de Tarcísio de Freitas]. O governo do Tarcísio segue uma agenda e uma ideologia bolsonarista. Apesar de tentar colocar um verniz mais democrático, de se descolar, até ser mesmo um pouco menos voraz do que é o Bolsonaro, a agenda é a mesma”, diz a deputada.
Hilton ingressou na política como deputada estadual, em um mandato coletivo da Bancada Ativista, pelo PSOL, e foi eleita vereadora da capital, em 2020, também pelo partido socialista. Durante sua gestão na câmara dos vereadores, presidiu a Comissão de Direitos Humanos da casa e tem levado ao âmbito federal questões como a situação dos moradores em situação de rua de São Paulo.
Para Hilton, as ações de Nunes, que determinou a retirada de pertences dos moradores em situação de rua como colchões, barracas, entre outros, e que são tratadas pela gestão como “zeladoria”, são, na verdade, “descaso com os pobres, os vulneráveis e com os precarizados”.
“A zeladoria da cidade é uma pauta importante, mas ela não pode violentar os direitos humanos, não pode tratar pessoas humanas como lixo, não pode tratar desta maneira os pertences, as barracas, os cobertores, os colchões das pessoas, que vão enfrentar agora as baixas temperaturas”.
“Eu fui pessoalmente, enquanto presidente da Comissão de Direitos Humanos visitar os abrigos da cidade de São Paulo. Eu entreguei ao ministro Alexandre de Moraes um relatório completo mostrando os percevejos nos colchões, fezes de pombos nos colchões e nos refeitórios, vasos sanitários transbordando, a falta de autonomia desses indivíduos que saem das ruas e vão ser tratados da forma como são pelos equipamentos da prefeitura”, completa Hilton.
Na conversa, a deputada fala ainda sobre outros temas, como o trabalho do governo Lula (PT) para construir uma base de apoio no Congresso, que garanta a aprovação de emendas importantes, como o arcabouço fiscal e a reforma tributária.
“Está começando a se consolidar. Claro, às vezes, o que transpassa da Câmara Federal é essa extrema direita barulhenta, antidemocrática, desrespeitosa, que pode passar a sensação de que o governo terá mais dificuldade do que ele já terá para colocar o seu programa em curso. Mas eu avalio que há, sim, uma disposição dos partidos de centro, não daqueles partidos fascistas, não aqueles políticos que, de fato, estão ali para serem uma oposição desleal e desonesta ao governo, a possibilidade de construção de um caminho para se aprovar essas políticas importantes”.
Hilton comenta ainda sobre a sucessão do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, que deixou a corte no último dia 1º. Segundo a deputada, este é o momento ideal para que o governo Lula faça a nomeação de uma mulher negra para compor as cadeiras do STF.
“Nós precisamos de mais mulheres, negras e negros ocupando a corte. Nós precisamos que a corte reflita as mudanças da sociedade. Acho que seria grandioso ao Supremo Tribunal Federal, seria grandioso ao governo Lula, seria grandioso a nação brasileira, que nós tivéssemos, sim, uma mulher negra ocupando aquele lugar”.
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