Por 47 votos a favor e nenhum contra, Cristófaro se torna o primeiro político cassado por um ato de racismo no Brasil
São Paulo – A Câmara Municipal de São Paulo cassou, na terça-feira (19), o mandato do vereador Camilo Cristófaro (Avante) por quebra de decorro parlamentar. No ano passado, quando participava remotamente de uma sessão, o vereador foi flagrado dizendo a frase: “Eles arrumaram e não lavaram a calçada. É coisa de preto, né?”. Foram 47 votos pela cassação, cinco abstenções e nenhum contra. Assim, Cristófaro se torna o primeiro político cassado por um ato de racismo no Brasil.
“Eu, que estava presente (à sessão), nunca vou esquecer da expressão de todos os presentes naquela sessão que se sentiram violentados pela fala. Foi um desrespeito profundo a todos os que estavam presentes e a toda a população negra de São Paulo”, afirmou a vereadora Luana Alves (Psol), que denunciou o caso.
Na ocasião, Camilo divulgou duas versões distintas para a fala vazada. Na primeira, em vídeo enviado aos colegas, disse que estava falando sobre a dificuldade de limpar carros com pintura na cor preta. Horas mais tarde, em reunião do colégio de líderes, disse que se tratava de uma brincadeira com um amigo.
“Eu tenho essa intimidade com ele, ele me chama de carequinha, de velhinho. Temos essa intimidade. Ele é um irmão meu. Se alguém se sentiu ofendido, e acho que deve se sentir, eu peço desculpas pelo contexto, eu fiz com ele o que ele faz comigo”, alegou.
Como as versões não colaram, ele veio a público se desculpar. “Eu peço desculpas a toda população negra por esse episódio que destrói toda minha construção política na busca de garantia à cidadania dos paulistanos, principalmente aos que têm suas portas de acesso ao direito diminuída pelo racismo estrutural. Apesar de ter tido uma fala racista, em minhas atitudes e com o tempo vocês terão a oportunidade de constatar isso”.
Pressão contra o racismo
Ativistas se reuniram na porta da Câmara para protestar contra o racismo. Com faixas e uma roda de capoeira, eles pediam a cassação do vereador. Além disso, dentro do plenário, havia mais faixas repudiando o ato racista.
Relator do caso, o vereador Marlon Luz (MDB) deu parecer favorável à cassação. Nesse sentido, ele disse que viu na fala do colega um “evidente comportamento que consiste em manifestar a crença de que existem seres humanos superiores a outros”.
“Eu nunca fui chamado de racista por qualquer canto que eu ando nessa cidade. O negro não é bobo, não. Ele sabe quem trabalha. Aqui ninguém está me julgando. Aqui estão me executando”, tentou justificar o acusado. Do mesmo modo, seu advogado alegou que a frase foi retirada de contexto para incriminar o vereador.
Durante a votação, mais pressão vinda das galerias. Assim, ao anunciar que votaria pela abstenção, o vereador Sansão Pereira (Republicanos) ouviu gritos de “racista”.
Por RBA