Em 3 de abril, o Itamaraty soltou nota dizendo que o governo Lula “condenava” o ataque israelense que deixou 8 mortos em embaixada do Irã em Damasco, na Síria; agora, quando o Irã revidou, o Planalto mandou dizer que vê a ação de Tel Aviv com “grave preocupação”
Dois últimos eventos recentes elevaram a tensão no Oriente Médio: o ataque atribuído a Israel, em 1º de abril, a um edifício anexo à Embaixada iraniana na Síria; e o bombardeio do território israelense pelo Irã, no sábado (13.abr.2024).
As ofensivas escalaram a tensão no Oriente Médio, o que levou a comunidade internacional a se manifestar. O governo brasileiro optou por condenar a ação israelense, mas não a iraniana.
Em 1º de abril, um ataque aéreo atingiu um edifício anexo à Embaixada iraniana em Damasco, capital da Síria, e deixou 8 mortos, incluindo um general da Guarda Revolucionária do Irã. As autoridades do Irã e da Síria atribuíram a responsabilidade do atentado a Israel, apesar de o país não ter assumido a autoria.
Em nota no dia 3 de abril, o governo brasileiro disse que “condena o ataque”. Destacou o princípio da inviolabilidade das representações diplomáticas e consulares e o respeito à soberania e à integridade territorial dos países. Também falou da “preocupação com a disseminação de focos de hostilidade na região” (leia a íntegra da nota abaixo).
Em reação ao bombardeio, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, prometeu retaliar. Na 4ª feira (10.abr), em post no X (ex-Twitter), disse que Israel seria punido: “Quando o regime sionista ataca um consulado iraniano na Síria, é como se tivesse atacado o solo iraniano. Esse regime malicioso tomou uma decisão errada. Deve ser punido e será punido”.
A promessa foi cumprida no sábado (13.abr), quando o Irã lançou um ataque contra o território israelense. Segundo as FDI (Forças de Defesa de Israel), cerca de 300 drones e mísseis foram lançados pelo Irã. Israel afirma que caças do país e de aliados, como EUA e Reino Unido, e o sistema de defesa Domo de Ferro interceptaram 99% dos alvos aéreos.
Para além do ataque à Embaixada iraniana na Síria, a tensão entre os 2 países vinha crescendo desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza. O grupo extremista palestino tem relação duradoura com o Irã, potência militar e econômica que já forneceu apoio político, financeiro e armamentos à organização.
Em relação ao ataque do final de semana, o governo brasileiro disse que está acompanhando “com grave preocupação, relatos de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel”. Voltou a pedir pela contenção das hostilidade e orientou os brasileiros a não viajarem para a região (leia a íntegra da nota abaixo).
A opção por não condenar o ataque foi criticada no domingo (14.abr) pelo embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, que se disse “desapontado” com a reação do governo brasileiro.
“Eu procurei a palavra condenação na nota e não achei. Não usaram. Não condenaram o ataque. Fiquei desapontado que não tenha uma reação dessa natureza. Não sei o porquê. A nossa expectativa era por algo mais claro contra esse tipo de ataque do lado do Brasil”, disse Zonshine em entrevista ao Poder360.
O tom da nota, porém, dividiu opiniões. Para o ex-ministro e diplomata de carreira Rubens Ricupero, o Itamaraty acertou. Também em entrevista ao Poder360, avaliou não haver motivos para o país “tomar uma posição de um lado ou de outro”.
O fato é que as relações entre o Brasil e Israel se complicaram desde o início da guerra em Gaza. Declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Israel –comparando as ações da guerra contra o Hamas às de Hitler contra os judeus– o tornaram “persona non grata” no país. O próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu chegou a dizer que a fala de Lula era “vergonhosa”. Já o ministro de Relações Exteriores israelense, Israel Katz, exigiu uma retratação formal do presidente brasileiro.