Ministro da Defesa disse que vai conversar com os atuais comandantes, mas ressaltou que o problema envolve militares do governo Bolsonaro
O comandante do Exército, General Tomás Paiva, e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, durante desfile de 7 de Setembro em Brasília – Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse que a suposta proposta de golpe de Estado aos comandantes das Forças Armadas, feita por Jair Bolsonaro (PL), segundo o tenente-coronel Mauro Cid, constrange os militares.
“Não mexe conosco [diretamente] porque trata-se de pessoas que pertenceram, que estão na reserva, os citados, mas nós desejamos muito que tudo seja esclarecido. Evidentemente que constrange esse ambiente que a gente vive, essa aura de suspeição coletiva nos incomoda”, disse Múcio, ao chegar a seu ministério nesta quinta-feira (21), logo após a história vir à tona.
Ele disse que vai conversar com os atuais comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, mas repetiu algumas vezes que o episódio envolve militares que trabalharam no governo Bolsonaro. “Essas coisas que saíram hoje são em relação ao governo passado, comandantes passados, não mexe com ninguém que tá na ativa”, ponderou.
“Ficamos sempre torcendo que essas coisas tenham fim, porque você pode imaginar o que é trabalhar com um manto de suspeição, é muito ruim, quem não tem nada a ver com isso se sente incomodado. Mas tudo vai chegar a um bom fim. Tenho certeza cristalina que o golpe não interessou em momento nenhum às Forças Armadas. São atitudes isoladas de componentes das Forças, mas o Exército, a Marinha e a Aeronáutica nós devemos a eles a manutenção da nossa democracia”, concluiu o ministro.
As informações sobre o conteúdo da delação de Cid foram reveladas nesta quinta pelo portal UOL e pelo jornal O Globo. Cid teria contado aos agentes da PF que Bolsonaro recebeu das mãos do assessor especial para assuntos internacionais Filipe Martins uma minuta de decreto para convocar novas eleições. A prisão de adversários políticos, segundo ele, estaria entre as medidas.
O então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, durante cerimônia comemorativa dos 157 anos da Batalha Naval do Riachuelo, no Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília
Mauro Cid reportou que estava pessoalmente em duas reuniões. A primeira quando Felipe Martins teria entregue a minuta em questão para Bolsonaro. E, o outro encontro, seria a reunião do então presidente com a cúpula das Forças Armadas e ministros militares.
PF investiga origem e teor de minuta
De acordo com Mauro Cid, o então assessor especial Filipe Martins e um advogado constitucionalista tiveram uma reunião com o ex-presidente no final do ano passado para apresentar a minuta de golpe. Cid, no entanto, disse não lembrar o nome do advogado.
A Polícia Federal investiga se a minuta de golpe é o mesmo documento que os agentes encontraram, em janeiro deste ano, na casa de Anderson Torres. O documento encontrado na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro determinava o decreto de um “estado de defesa” na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Advogado não nega nem confirma informações
Por meio de nota, a defesa de Mauro Cid afirmou que, em razão das matérias citadas na imprensa sobre “possíveis reuniões com a cúpula militar para avaliar golpe no país”, “que não tem os referidos depoimentos, que são sigilosos, e que por essa mesma razão não confirma seu conteúdo”.
Por Renato Alves