Explosões coordenadas com dispositivos eletrônicos expõem vulnerabilidades tecnológicas globais
As explosões coordenadas no Líbano, envolvendo o uso de pagers e rádios, geraram um alerta sobre a segurança das cadeias globais de suprimento e suas potenciais vulnerabilidades. Segundo matéria da Al Jazeera, os ataques, amplamente atribuídos a Israel como parte de uma operação contra o grupo armado Hezbollah, destacam o risco de dispositivos de comunicação serem transformados em armas.
“Todas as empresas que fabricam ou vendem dispositivos físicos estão preocupadas com a integridade de suas cadeias de suprimento”, afirmou James Grimmelmann, professor de direito digital e da informação em Cornell Tech e Cornell Law School, nos Estados Unidos. “Provavelmente, elas vão considerar a adoção de salvaguardas adicionais para detectar e prevenir incidentes como este.”
Impacto sobre a confiança pública
As explosões, que ocorreram entre terça e quarta-feira, deixaram ao menos 32 mortos e mais de 3.100 feridos, incluindo membros do Hezbollah e civis, segundo autoridades libanesas. Brian Patrick Green, diretor de ética tecnológica no Markkula Center for Applied Ethics da Universidade de Santa Clara, destacou que o incidente pode abalar a confiança pública nos dispositivos eletrônicos.
“Milhares de dispositivos foram transformados em armas sem que ninguém notasse. Como essas explosões foram inseridas nesses dispositivos? Como chegaram à cadeia de suprimentos? Essas perguntas levantam um cenário assustador e até então impensado”, afirmou Green.
O papel das empresas
A empresa taiwanesa Gold Apollo, fabricante dos pagers usados nos ataques, negou envolvimento direto, afirmando que os dispositivos foram fabricados sob licença por uma companhia chamada BAC. No entanto, o New York Times revelou, com base em informações de fontes anônimas, que a BAC seria uma fachada israelense. A Icom, fabricante japonesa de rádios, declarou que o modelo utilizado nos ataques foi descontinuado há mais de dez anos.
“Esse modelo foi descontinuado há cerca de dez anos e, desde então, não foi mais produzido ou enviado por nossa empresa”, declarou a Icom em comunicado.
Precedente perigoso
Especialistas apontam que os ataques podem causar uma mudança na forma como as empresas e o público enxergam os dispositivos eletrônicos. Milad Haghani, especialista em cadeias de suprimento da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, afirmou que “para as empresas de tecnologia, essa situação é inédita em termos de escala, e muitas provavelmente não estavam preparadas para lidar com ameaças dessa natureza.”
Andrew Maynard, professor da Universidade do Estado do Arizona, concorda que os ataques representam um marco, transformando a percepção dos dispositivos pessoais, que passarão de “solutamente seguros” para “potencialmente perigosos”.
Por Brasil 247