ÁREAS COM GUERRAS ENTRE FACÇÕES RIVAIS DO CRIME TIVERAM A MAIOR PARTE DAS APREENSÕES DE FUZIS PELA PM ESTE ANO

Relatório de apreensões, feito pela corporação, revela que 421 armas deste tipo foram retiradas das mãos de bandidos, nos quase oito primeiros meses do ano

Áreas com grande movimentação de criminosos ou regiões com concentração de territórios atualmente disputados por facções rivais, foram as que mais tiveram fuzis apreendidos pela Polícia Militar, no Rio, entre o dia 1º de janeiro de 2024 e o último dia 20 de agosto. Relatório de apreensões, feito pela corporação, revela que 421 armas deste tipo foram retiradas das mãos de bandidos, nos quase oito primeiros meses do ano. O quantitativo é 12% maior do que o total apreendido no mesmo período de 2023. A data que o levantamento foi fechado não incluiu os últimos 11 dias de agosto de 2024.

Levando em conta o período citado acima, foram apreendidos um total de 78 fuzis nos 31 dias de agosto deste ano. Foi o maior quantitativo de armas deste tipo retirado das ruas, num único mês, desde o início da série histórica, quando as apreensões passaram a ser contabilizada pelo Instituto de Segurança Pública, em 2015.

Dados do relatório da PM também mostram que o arsenal da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP) foi o que mais sofreu perdas em relação à comparação com o ano passado. Envolvidos em confrontos com o Comando Vermelho(CV) em áreas da Zona Norte e da Zona Oeste, o TCP teve 132 fuzis apreendidos pela PM, em 2024. O total é 35% maior do que o quantitativo encontrado com o bando, no mesmo período do ano passado.

Os dois fuzis apreendidos no Complexo da Pedreira — Foto: Polícia Militar/Reprodução

O CV, que também disputa áreas com o TCP e com a milícia, em regiões da Grande Jacarepaguá e da Barra Tijuca, aparece em segundo lugar, com um acréscimo de 5% na listagem de armas de guerra apreendidas, na comparação com 2023. Não por coincidência, a 31ª Aisp (Área Integrada de Segurança Pública que engloba Recreio dos Bandeirantes, Vargens e etc), e a 18ª Aisp (Grande Jacarepaguá), onde estão concentradas a maioria das comunidades que têm territórios disputados pelos grupos criminosos rivais, foram onde aconteceram as maiores apreensões de fuzis, este ano, na Zona Oeste.

Só a primeira unidade citada, que abrange comunidades do Itanhagá, na Barra da Tijuca, houve um acréscimo de 267% nas apreensões deste tipo de arma, em relação a 2023. Segundo o coronel PM Marcelo de Menezes Nogueira, secretário de Polícia Militar, as disputas entre grupos rivais acabam provocando a movimentação e criminosos e, consequentemente, realizações de operações policiais e maior apreensão de fuzis.

Fuzis e drogas aprendidos em operação da PM na Cidade de Deus — Foto: Divulgação Polícia Militar

— Na zona Oeste, a gente verifica que no corredor do Intanhagá, houve, até antes da minha gestão, e atualmente a gente conseguiu efetivamente estabilizar aquela região, houve uma disputa nas comunidades da Muzema, Sítio do Pai João, Morro do Banco ( entre outras). Houve uma disputa ali em que uma facção criminosa avançou sobre a milícia, que historicamente atuava naquela região. Então, a gente entende que para que esses criminosos possam buscar essa empreitada, eles precisam efetivamente reunir o maior número de armas de poderio bélico e o fuzil representa isso. É uma arma de guerra, que eles entendem que precisam se reforçar para poder ter sucesso nessa intenção, nessa empreitada deles de disputar e de conquistar novos espaços— disse o secretário.

Já na Zona Norte, a 22ªAisp (Maré) e 41ª Aisp (Irajá) aparecem como locais onde mais se apreenderam fuzis na maior parte dos oito primeiros meses de 2024. A primeira, que abrange comunidades como Nova Holanda, Parque União, e Vila dos Pinheiros, todas localizadas no Complexo da Maré, onde há territórios controlados pelo CV, TCP e milícia, registrou uma elevação de 118% de apreensão deste tipo de arma, na comparação com o mesmo período de 2023. Uma das apreensões ocorreu no dia 11 de junho último, no Complexo da Maré.

Homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do 22º BPM (Maré), realizaram na Mar uma operação na região em comunidades controladas pelo TCP (Vila do João e Vila dos Pinheiros). Na ocasião, foram apreendidos 11 fuzis — entre eles um submetralhadora capaz de derrubar aeronaves. Durante a ação, bandidos queimaram um ônibus e chegaram a interromper o trânsito com barricadas em duas vias expressas. Dois policiais foram baleados e não resistiram aos ferimentos.

Já a área da 41ªAisp registrou aumento de 68% de apreensões deste tipo de arma, na maior parte dos oito primeiros meses de 2024, na comparação com o mesmo período de 2023. A região concentra comunidades como o Complexo do Chapadão e o Complexo da Pedreira, localizados entre os bairros de Costa Barros, Barros Filho, Pavuna e Anchieta. Ambas têm territórios controlados pelo CV e TCP, respectivamente. Em fevereiro e julho, os dois bandos trocaram tiros durante tentativas de invasão. Na última oportunidade, três pessoas morreram meio a troca de tiros.

Segundo um decreto assinado pelo governador Cláudio Castro, em 2023, cada fuzil apreendido por policiais vale uma gratificação de R$ 5 mil para o responsável pela apreensão. No último dia 28, Castro premiou policiais militares que apreenderam cerca de 500 fuzis em comunidades do Rio entre agosto do ano passado e julho deste ano. A solenidade aconteceu na sede do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio (Bope), em Laranjeiras, na Zona Sul, e contou com a presença do secretário de Segurança Pública, Victor César Carvalho, do Comandante Geral da PM, Coronel Marcelo de Menezes Nogueira, e do secretário de Polícia Civil, Marcos Amim.

Na cerimônia, Cláudio Castro entregou para um grupo de policiais um cheque simbólico no valor de R$ 2,5 milhões. Em agosto do ano passado, o governador assinou um decreto determinando a recompensa de R$ 5 mil por cada fuzil apreendido.

— Nós não podemos mais normalizar uma situação que é crítica. Seria crítica se fosse um, mas são 500. É 500 vezes crítica a situação da apreensão desses fuzis. Nós temos que deixar, de uma vez por todas, de achar que é normal, ou pior, de achar que nada tem sido feito. Não dá para isso passar, fazer parte do nosso cotidiano, não é parte do cotidiano. De ter armas de guerra circulando na sociedade. E parte da nossa indignação tem que ser dividida com aqueles que controlam as fronteiras do nosso país — afirmou Castro.

— Olha o dado que o secretário colocou aqui. Mais de 90% dessas armas não foram fabricadas no Brasil. Há de se dividir, sim, a responsabilidade. E aqui não estamos falando em culpa, estamos falando em responsabilidade. Não dá mais nem para a sociedade, nem para as autoridades, ficarem jogando isso nas costas dos bravos policiais.

Por: Extra

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