Procurador-geral citou como exemplos apagões em repartições específicas da PGR durante reuniões consideradas importantes
– O procurador-geral da República, Augusto Aras, disse à revista eletrônica Consultor Jurídico nesta sexta-feira (21/7) que o fim de sua gestão é alvo de “sabotagens” e que um grupo de opositores no Ministério Público Federal está tentando, por meio da imprensa, “apagar” avanços de sua administração.
“Há uma evidente sabotagem. Tentam apagar todos os registros da nossa administração. As críticas em tempos de sucessão na PGR são comuns, mas estou sendo sabotado há cerca de 60 dias. Todo dia há problemas novos que ninguém sabe quem criou”, afirmou.
Ele citou como exemplos apagões em repartições específicas da PGR durante reuniões consideradas importantes, instabilidades em serviços informatizados, releases publicados no site do órgão, entre outros episódios. Aras determinou a abertura de uma investigação para apurar as suspeitas de sabotagem.
Um dos episódios ocorreu em 28 de junho. Na ocasião, procuradores, diretores do Banco Central e representantes de fintechs e do mercado financeiro estavam reunidos em uma sala quando a energia caiu.
Pessoas próximas ao PGR também afirmam que houve o desaparecimento de processos e que arquivos somem e voltam a aparecer em sistemas internos do MPF. As acusações de sabotagem na rede elétrica são dadas como principal explicação aos problemas.Playvolume
“Falam até em ‘crise’ do MPF porque 16 procuradores foram exonerados na minha administração. Mas oito deles assumiram vagas destinadas ao MPF em Tribunais Regionais Federais. Pergunte a eles se alguém está se queixando. Outro foi reprovado no estágio probatório. Diogo Castor (ex-integrante da ‘lava jato’ de Curitiba) foi demitido e está aguardando uma sentença. Deltan Dallagnol (ex-coordenador da ‘lava jato’) foi para a política. Cinco saíram para advogar.”, diz Aras à reportagem.
“(Outros) Seis queriam voltar das aposentadorias, sendo que reprovamos o retorno de um deles. Não há crise. Quem saiu, não saiu porque não gosta do MPF.”
“Na nossa gestão, nós não somente pagamos passivos acumulados há 20 anos — o que nunca foi gasto e era usado de modo eleitoreiro. O orçamento é o mesmo há 20 anos. Usei para pagar frotas de helicópteros e lanchas para facilitar a locomoção em locais afastados, fizemos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaecos) no Brasil inteiro, todos providos de servidores. Estamos aumentando a presença da PGR na Amazônia para combater crimes ambientais, o crime organizado e os crimes contra povos originários”, prossegue o PGR.
Aras diz que fez uma reestruturação no MPF para que, por meio de concursos e atrativos para quem já integra a instituição, mais procuradores atuassem na Amazônia.
Ele também citou a criação do GeoRadar, sistema baseado em georreferenciamento que reúne mais de 450 bancos de dados de órgãos públicos, e a compra de equipamentos de acesso à internet via satélite para reforçar a atuação do órgão na região amazônica. Em dezembro de 2022, ele falou sobre a reestruturação em entrevista à ConJur.
“Isso supera o trabalho dos 12 anos anteriores. Não há nenhum precedente do grau de intensidade do trabalho que fizemos na minha gestão se comparada às administrações que vieram antes.”
O PGR também comentou as cinco notas de apoio de associações ligadas ao MPF divulgadas nesta semana, entre elas o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), o que, segundo ele, é “algo raro” quando se trata de um órgão tão fragmentado quanto o Ministério Público.
Aras assumiu a PGR em setembro de 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), e foi reconduzido por uma vez. Sua atual gestão acaba em setembro, e há possibilidades de ele ser reconduzido.
Por Tiago Angelo (Conjur)