APÓS PRISÃO POR INJÚRIA RACIAL, JUSTIÇA DO RIO MANDA SOLTAR MULHER QUE ‘MORA’ NO MCDONALD’S

Susane Paula Muratori Geremia, de 65 anos, está proibida de acessar e frequentar a lanchonete, que fica no Leblon, na Zona Sul

Rio – Em audiência de custódia realizada na tarde deste sábado (31), a Justiça do Rio mandou soltar Susane Paula Muratori Geremia, de 65 anos. A mulher, que “mora” há meses com a filha em um McDonald’s no Leblon, Zona Sul, havia sido presa pelo crime de injúria racial contra um grupo de adolescentes. Apesar da liberação, ela está proibida de voltar ao estabelecimento.

Na decisão, a juíza Ariadne Villela Lopes negou o pedido feito pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) de converter a prisão em flagrante em prisão preventiva. Ela levou em consideração que Susane é idosa e não tem antecedentes criminais, concedendo liberdade provisória.

A magistrada, no entanto, impôs algumas medidas cautelares a Susane. Entre elas está a proibição de acessar e frequentar o local onde o crime aconteceu, na unidade que fica na esquina da Avenida Ataulfo de Paiva com a Rua Paulo Góes, por dois anos.

Susane ainda terá que comparecer mensalmente ao juízo, ao longo de dois anos, para informar e justificar suas atividades. Além disso, ela está proibida de ter contato com a adolescente que a denunciou, tendo que manter uma distância mínima de 500 metros da vítima.

Relembre o caso

Na última sexta-feira (30), Susane e a filha, Bruna Muratori, de 31 anos, foram conduzidas à delegacia depois de terem sido acusadas de racismo por grupo de cinco adolescentes. Bruna foi liberada pelos agentes da distrital ainda durante a noite, mas a mãe acabou ficando detida na unidade.

Segundo relato da mãe de uma das vítimas ao RJTV1, da TV Globo, Susane teria chamado uma das garotas de “preta nojenta”, “pobre” e “pretinha”. Ela explicou, ainda, que a confusão teria começado porque as adolescentes estavam no restaurante conversando e rindo e que as “moradoras da lanchonete” se incomodaram e começaram a filmá-las.

Ainda de acordo com as vítimas, as ofensas começaram durante o registro, quando as meninas disseram ter sido chamadas de “fedelhas”, “pretas” e também de “vagabundinhas”. O pai de uma das adolescentes ouviu da filha que as duas mulheres disseram que aquele não era lugar para “pobre” e “negros”.

O crime foi registrado na 14ª DP (Leblon), onde as testemunhas foram ouvidas e Susane autuada pelo crime de injúria racial.

Moradoras do McDonald’s

Susane e Bruna “moram” no restaurante desde fevereiro deste ano, após terem saído de imóvel alugado. No restaurante de fast food, as duas ficam sentadas em mesas onde deixam também suas malas. O local funciona das 10h às 5h da manhã. Nesse intervalo, mãe e filha costumam aguardar na calçada do estabelecimento.

Em abril, elas concederam uma entrevista revelaram que esperam conseguir um local para morar e retomarem a vida normalmente. Na época, Bruna disse não compreender a repercussão do caso e afirmou que na Europa e Estados Unidos essa é uma situação comum.

“As pessoas criaram um problema para mim e para minha mãe. Estávamos resolvendo uma situação. Estamos procurando um lugar para ficar. É comum essa situação. Não tem apartamento. Ou colocam o preço lá em cima por causa do turismo, está difícil demais. As pessoas querem lucrar”, disse.

Histórico de ‘calotes’

Vindas do Rio Grande do Sul, as duas convivem com problemas financeiros. Com histórico de “calotes”, Susane e Bruna, inclusive, já sofreram ações de despejo.

Em 2017, mãe e filha foram condenadas pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul pelo não pagamento de quatro meses de aluguel, entre agosto e novembro. A dívida soma quase R$ 10 mil.

No Rio de Janeiro, os primeiros registros são de 2019 e há pelo menos três dívidas nos nomes das duas. Em uma delas, a Justiça condenou ambas e determinou o despejo, por acumularem déficit de R$ 13 mil.

Em outro processo, a avaliação do juiz foi de que se tratava de um caso hipossuficiência, ou seja, elas não tinham condições financeiras de arcar com as dívidas.

Bruna chegou a dizer que os casos da Justiça já haviam sido resolvidos. “As pessoas criaram um problema para mim e para minha mãe. Estávamos resolvendo uma situação. Estamos procurando um lugar para ficar. É comum essa situação”, disse.

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