A jovem, que é seguidora do Candomblé, religião de matriz africana, relatou que os episódios aconteceram após ter passado mal e precisado ser socorrida no Colegio Estadual Califórnia.
Uma adolescente de 17 anos denuncia ter sido alvo de intolerância religiosa dentro da unidade em que estuda, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A estudante Lara Melhem conta que o caso aconteceu dentro Colegio Estadual Califórnia, onde cursa o 3º ano do Ensino Médio.
A jovem, que é seguidora do Candomblé, religião de matriz africana, relatou que os episódios aconteceram após ter passado mal e precisado ser socorrida no Colegio Estadual Califórnia.
Neste ano, Lara sofreu mal-estares em pelo menos cinco ocasiões. Em setembro, chegou a desmaiar duas vezes e teve que ser socorrida em sala de aula. Foi nessa ocasião em que ela foi alvo de intolerância religiosa.
” [Ouço] comentários de funcionários, alunos, diretora, falando que estou com demônio no corpo, perguntando quando ia começar a macumba… Isso tem me afetado bastante na minha vida pessoal, acadêmica, foi algo que me deixou muito triste. Passei uns três dias sem vir para escola porque eram comentários frequentes”.
O caso foi registrado nesta quinta-feira (5), na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro do Rio. Os nomes dos funcionários e professores que cometeram as agressões estão na ocorrência.
Uma secretária, ao ver Lara passando mal, teria dito: “Está com demônio no corpo, tem que ir para a igreja encontrar Jesus”.
Em outro momento, uma professora teria afirmado: “Procure uma igreja para aceitar Jesus”.
Lara também conta que um porteiro, em certa ocasião olhou para ela e perguntou: “Quando vai começar a macumba?”.
A defesa da jovem, através da advogada Josy Moura, classificou o ocorrido como vexatório.
“O Estado é laico, deveria dar toda proteção. Ela é menor [de idade], estudante e não teve esse apoio da escola. Ela passou mal e, por ser de religião de matriz africana foi discriminada, sofreu intolerância religiosa, e passou por situação vexatória”, destacou.
Lara relata que começou a sofrer crises de ansiedade durante a pandemia, em 2020, quando procurou ajuda de médicos e psicólogos. No entanto, a estudante diz que professores e funcionários reagiram de forma preconceituosa porque ela própria atribui as crises que teve dentro da escola a questões espirituais, ligadas ao Candomblé.
A Juliana, mãe de Lara, que tem deficiência auditiva, ficou indignada. O pai de santo Glauber Senra, primo e babalorixá da Lara, costuma ir à escola representar os pais da menina.
O religioso considera a Lara um “abian”, que significa iniciante da religião. Glauber acredita que Lara tenha entrado em transe na escola mais de uma vez porque ela está se desenvolvendo espiritualmente e sentiu uma energia muito forte, que ainda está aprendendo a doutrinar.
“Eles não aceitam, não entendem. É uma intolerância religiosa, sim, o que está acontecendo aqui. Não tem outro nome a se falar a não ser intolerância religiosa”, frisou o pai de santo.
Lara afirma que espera que o caso seja resolvido. “Esperava que eles tomassem medidas cabíveis, que me protegessem ali dentro, até porque eu sou aluna, estou dentro da instituição. Acho que o dever deles era ter me escutado, tentado me proteger ali dentro, ter me chamado para conversar pelo menos”.
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) disse que abriu uma sindicância para apurar os fatos. A pasta afirmou que direção do colégio e o Conselho Tutelar estão acompanhando o caso.
A Seeduc informou ainda que “repudia qualquer forma de preconceito e discriminação” e ressaltou que “criou e distribuiu para todas as escolas uma cartilha que teve como base o estado laico e a liberdade de crença e de culto religioso, previstos na Constituição Federal”.
Por Anita Prado, Carlos de Lannoy, RJ2