Ministro afirmou que “ódio” bolsonarista contaminou várias instituições civis e militares. Bolsonaro assume que era “comum” pedir informações a órgãos do governo a partir de “vínculo de amizade”
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta segunda-feira (29) que as investigações envolvendo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) indicam que havia uma “organização criminosa” operando a partir do Palácio do Planalto, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Assim, Padilha foi o primeiro ministro a comentar a nova fase da Operação Vigilância Aproximada, da Polícia Federal (PF), que apura esquema de espionagem ilegal na Abin, a chamada Abin paralela. Ele falou com jornalistas após reunião no Ministério da Fazenda.
Hoje a PF cumpriu mandados de busca e apreensão contra o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos). As investigações apontam que o filho do presidente integrava o “núcleo político” do esquema de espionagem ilegal. No entanto, quando os policiais chegaram na casa de praia da família, em Angra dos Reis, Bolsonaro e os filhos estavam passeando de lancha e jet ski.
“As novas operações da Polícia Federal vêm mostrando que a cena do crime do dia 8 de Janeiro, que não era um crime isolado, continua trazendo novidades. A organização criminosa tinha tentáculos em várias instituições. Inclusive utilizando mecanismos paralelos, como é o caso dessa ‘Abin paralela’ que foi criada por essa organização criminosa do governo anterior”, disse Padilha.
Questionado sobre eventual “pente fino” na Abin, Padilha afirmou que os “processos de apuração” não se restringem à agência de inteligência. Segundo ele, envolvem todos os órgãos, “sejam civis ou militares”.
“E nós não descansaremos enquanto todos aqueles envolvidos com os crimes preparatórios do dia 8 de janeiro e o próprio 8 de janeiro sejam devidamente apurados, punidos”, disse o ministro.
Nesse sentido, disse que “o clima e o ódio” semeados durante o governo anterior contaminaram várias instituições civis e militares. “A apuração sobre o envolvimento individual em todas as instituições tem que continuar”, frisou.
Bolsonaro reage
Em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro disse que “desconhece” qualquer pedido ilegal de informações por parte de seus filhos para Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A PF, entretanto, suspeita que Carlos Bolsonaro usava assessores para solicitar informações de forma ilegal. Em uma das mensagens obtidas pelos investigadores, uma das assessoras de Carlos entra em contato com uma assessora da Ramagem para solicitar “ajuda” da “Abin paralela”. Ela solicitou informações sobre as investigações contra Jair Bolsonaro e seus filhos.
“Jamais, no meu entender, um filho meu faria uma solicitação dessa. E, se por ventura fizesse, pode ter certeza que seria prontamente rechaçado pelo delegado Ramagem. Investiguem, vão a fundo”, disse Bolsonaro. Nesse sentido, disse que as pessoas que escolheu para a Abin eram “isentas”. E portanto rejeitariam qualquer pedido desse tipo.
Por outro lado, disse que que “era comum” pedir informações para órgãos do governo, a partir de “um certo vínculo de amizade”. “Há uma amizade do Ramagem conosco. Tanto é que o senhor Alexandre de Moraes (ministro do Supremo Tribunal Federal) não permitiu que ele assumisse a Abin por ter uma certa relação de amizade conosco”, afirmou Bolsonaro.
O presidente disse ainda que seu filho Carlos vai prestar depoimento à PF nesta terça-feira (30). A defesa do vereador, no entanto, disse que o depoimento não se refere à operação desta segunda. Segundo o advogado Antonio Carlos Fonseca, a oitiva foi marcada há algumas semanas e se refere a uma publicação feita por Carlos em agosto do ano passado. O inquérito também está em segredo de Justiça.
Por RDA