A nova aliança reúne uma população de 72 milhões de pessoas
No sábado, 6 de julho de 2024, em Niamey, capital nigerina, ocorreu um fato histórico de grande relevância geopolítica: a primeira cúpula ordinária de chefes de Estado e de governo da Aliança dos Estados do Sahel (AES). Esta reunião marcou a ativação oficial da AES, fundada com um novo nome: A Confederação dos Estados do Sahel.
Este encontro reuniu o Coronel Assimi Goïta do Mali, o Capitão Ibrahim Traoré do Burkina Faso e o General Abdrahamane Tchiani do Níger, que ao final estabeleceram tratados nos quais enfrentam desafios comuns . Em especial, o jihadismo de inspiração Ocidental e o subdesenvolvimento.
A nova aliança reúne uma população de 72 milhões de pessoas, que no âmbito da sua atuação poderão desfrutar de um mercado comum que prevê livre circulação de pessoas e mercadorias.
Neste sentido, os chefes de Estado resolveram enfrentar um dos maiores símbolos do imperialismo francês na região, a moeda. Como sabemos, o Franco CFA, partilhado pelos países francófonos da África Ocidental, é um dos principais obstáculos ao desenvolvimento da região, na medida em que as nações não possuem controle de suas reservas cambiais e permite uma gigantesca transferência de recursos para a França
Segundo o periódico Afrique Media, o franco CFA é acusado de manter as economias da zona numa forma de dependência económica. Na verdade, é frequentemente descrito como uma ferramenta para a saída de capitais, privando assim os países africanos dos recursos necessários para financiar o seu próprio desenvolvimento e industrialização.
Assim, a criação de uma nova moeda pela AES poderia permitir aos países membros recuperar o controlo da sua política monetária e das suas reservas cambiais. Ao libertarem-se do franco CFA, os Estados do Sahel poderiam considerar uma gestão mais autónoma e mais adaptada às suas necessidades específicas, estimulando assim o seu desenvolvimento industrial e socioeconómico.
Um segundo ponto fundamental é a consolidação de uma nova estrutura de defesa comum. Como sabemos, o fundamentalismo islâmico é um instrumento básico dos países ocidentais de semear dificuldades para apresentar soluções. Na qual, travestida de esforço para garantir a segurança, transfere-se forças militares, que garantem, antes de tudo, os interesses imperiais. Não por acaso, foi a insatisfação com a presença dessas forças estrangeiras no combate ao “terrorismo” que legitimou os movimentos políticos-militares de tomada de poder e de expulsão daqueles que o Capitão Traoré denominou de escravos de salão a serviço dos seus mestres no Ocidente Coletivo.
Como bem afirma o Afrique Mídia, os países membros da aliança optaram por avançar na direção do verdadeiro movimento pan-africano e multipolar impossível de ser parado pela minoria global.
Neste sentido, é visível a importância dos parceiros do Sul Global, em especial a China com seus imensos recursos financeiros, principalmente depois do seu processo de distanciamento das dívidas do Tesouro estadunidense, que lhes permite investir em obras de infra-estrutura que a região tanto carece. Nunca é demais lembrar que o Níger fornece urânio para as usinas nucleares, possibilitando a iluminação de Otawa à Paris, enquanto apenas 16% dos nigerinos têm acesso a energia elétrica.
Na data de hoje, domingo, as forças estadunidenses finalmente deixaram a capital do Níger, Niamey, e não por acaso foram substituídas por militares da Federação Russa, que além de instrutores, o país eslavo tem fornecido equipamentos militares necessários ao combate ao terrorismo.
Neste sentido, os líderes do Sul Global, além dos BRICS e Organização de Cooperação de Xangai, passam a contar com um parceiro confiável na grande faixa civilizatória ao sul do Saara, com possibilidades incríveis de expansão para países próximos como Senegal.
Do ponto de vista geopolítico global é um fato político infinitamente mais relevante do que as trocas de comando nos países imperiais,como França ou Reino Unido, que tanta euforia tem provocado em uma determinada esquerda liberal nativa.
Por Paulino Cardoso
Fontes Afrique Media, RFI, Sputnik África